Na região da Campanha Gaúcha, numa das rotas que nos levam as fronteiras do Brasil com o Uruguai e a Argentina, encontramos uma pequena vinícola que ganhou lugar no cenário nacional dos vinhos.
A Routhier & Darricarrère se encontra estabelecida na zona rural de Rosário do Sul, ao ladinho da cidade, mas num espaço que lhe permite manter o charme bucólico da rusticidade. O espaço traduz muito bem a filosofia do empreendimento e a jovialidade de seus proprietários, que aprimoram, ano a ano, a produção na busca de vinhos e espumantes de altíssima qualidade.
Rosário do Sul entrou na Rota Farroupilha por sua importância histórica, por seus campos terem figurado como cenários de importantes batalhas na Revolução Farroupilha, na Revolução Federalista de 1893, bem como na Revolução de 1923. Por eles Farrapos e Imperialistas, Maragatos e Pica-paus e Chimangos e Maragatos jogaram todos os ideais, mataram e morreram em nome dos significados dos lenços e bandeiras que empunhavam. Guerrearam pouco? Isso que nem comecei a falar da Guerra da Cisplatina. Hoje terras calmas, não mais pintadas do sangue vermelho das lutas, mas pelas tantas cores da soja, da canola e das frutas semeadas por seus campos, com seus cenários de vastos pastos por onde vacas e ovelhas transitam sossegadamente. Por ali a tranquilidade só é quebrada pelas gargalhadas que nos verões invadem as praias de águas doces das Areias Brancas.
Mas, vamos misturar tudo isso com Kombi vermelha, uvas, barricas e muitas garrafas, e voltar nossa atenção para o tilintar das taças?
Somando dez gerações no cultivo de videiras e produção de vinhos, a família de origem francesa lançou sementes junto ao paralelo 30' e, em 2002, deu inicio aos trabalhos no pequeno município gaúcho, produzindo qualidade e gerando empregos e renda.
Um pouco de história sempre torna as viagens mais interessantes e foi recheada delas nossa visita, durante os trajetos da Rota Farroupilha, no inverno de 2016. Chegamos num final de manhã fria e ensolarada de inverno e éramos esperadas pelo Anthony Comerlatto Darricarrère, uruguaio de origem francesa e um dos proprietários que, antes de nos apresentar os rótulos, contou os oceanos e curvas vencidos pela família, antes que o produto chegasse até as mesas brasileiras.
Fundada pelos irmãos franceses, criados no Uruguai, Jean e Pierre Darricarrère e pelo canadense Michel Routhier, em 2002, tem em sua história a tradição da produção de vinhos há séculos. Os irmãos, descendentes de uma família francesa, que imigrou para colônias na Argélia, que retornou em parte para a França e que se espalhou pelo mundo, trazem a tradição familiar do cultivo da uva e da produção de vinhos. O canadense chega interessado na vasta produção de tangerina, a bergamota da campanha gaúcha. Juntos sonham, empreendem um projeto citrícola (frutas cítricas e videiras) e realizam a vinícola boutique, que produz em média 20 mil garrafas ano, com foco em qualidade.
Com rótulos já muito valorizados, ficou conhecida como a produtora do vinho da Kombi. O vinho produzido num corte de Sauvignon com Merlot, um ReD, ganhou fama pela simpática Kombi vermelha que traz em seu rótulo e que conta muito da história do lugar. Foi rodando as estradas brasileiras numa Kombi vermelha, em 1972, que os irmãos Darricarrère se apaixonaram pelas terras ao sul do sul do país. A homenagem histórica fez fama e rendeu súditos.
O ReD conta com certo requinte, é reconhecido por sua qualidade, mas possui companheiros não menos famosos. As linhas de produção, que levam nomes muito típicos da história e lendas gaúchas, satisfazem aos mais exigentes.
A linha Província de São Pedro traz o vinho branco Chardonnay, de cor dourada, com notas de especiarias, envelhecido em barricas de carvalho francês e que cruzou fronteiras. Em fama perde apenas para o espumante Extra Brut (método Champenoise) que, apesar de remeter a uma bebida seca, possui uma leveza e frescor que impressionam. Com ele brindamos, ao final de nossa visita. Ainda, conta com o Cabernet Sauvignon e com o Espumante Ancestral, com aromas de abacaxi, lima-limão e pão torrado.
Quem é fã de um Rosé, leve e marcante ao paladar? Aqui, duas linhas - uma já conhecida das mesas e outra, que é a nova grande aposta da vinícola boutique. Salamanca e Marie Gabi.
Na limitadíssima Salamanca do Jarau, nome forte de uma das lendas gaúchas, temos o Cabernet Sauvignon com seu vermelho rubi intenso, com notas de frutas negras e aromas de madeiras e cogumelos, além do Espumante Rosé, com sua cor rosada e seus aromas de pitanga, goiaba e pão torrado.
A aposta, que para mim é excepcional, é o Marie Gabi Rosé. Com uma cor deslumbrante, acobreada com reflexos dourados, um sabor que persiste na boca e aromas que misturam flores, frutas brancas e vermelhas, além de uma acidez muito equilibrada. No linguajar do leigo? Uma maravilha dos deuses, bonito e gostoso!
Muitos dirão que nunca ouviram falar e isso é fato, talvez pela produção ser pequena, mas os rótulos podem ser adquiridos pela internet e estão presentes em boas cartas de vinhos, como dos restaurantes do Hotel Copacabana Palace (RJ), do restaurante Dom de Alex Atala (SP) e do Aprazivel (RJ). Agora, para quem está rodando pelas estradas gaúchas em direção as fronteiras com Uruguai e Argentina, fique de olho na placa da Routhier e dê uma parada. Mediante o pagamento de uma pequena taxa é possível degustar os vinhos e espumantes ali produzidos, além de fazer compras na lojinha, por valores bem abaixo dos praticados no mercado. Em nossa visita, em julho de 2016, o Espumante Extra Brut Província de São Pedro saia no balcão por R$ 42,00 a garrafa. Hoje, pela compra online, verifiquei que sai por R$ 69,70 a garrafa, com possibilidade de frete grátis.
Muitas mãos fazem com que a produção da Routhier ganhe espaço. Gabriela Puhl Darricarrère é gaúcha, companheira de vida, de sonhos e de realizações do uruguaio Anthony e responde pelo marketing, além de ser a responsável pelos traços dos belos e criativos rótulos e embalagens. Por falar em rótulos, o do ReD - o vinho da Kombi, na caixa versão para doze garrafas foi premiado com ouro no Prêmio da Embalagem Brasileira.
Se gostei dos vinhos e espumantes? Mas tchê, gostei barbaridade. Tá, confesso que fiquei com água na boca, enquanto as meninas e Anthony se deliciavam com tantos sabores de aromas tão instigantes, mas só pude formar opinião ao abrir as garrafinhas adquiridas naquele dia. Motora não bebe. Então, se for beber, vá de carona.
Informações:
Br 158, Km 473 (quase no entroncamento com a BR 290)
Rosário do Sul - RS
Fomos recebidas na Routhier & Derricarrère e nos foi oferecida a degustação de vários rótulos da empresa, no intuito de divulgação do trabalho e dos atrativos da região, sem qualquer custo. Ao final, encantadas, investimos em muitas garrafas para poder degustar posteriormente, já fora de estrada.
A viagem #RotaFarroupilha é um projeto do Territórios e do As Peripécias de uma Flor, em parceria com os blogs Café Viagem e Mochilinha Gaúcha, que contou com as participações especiais de Andarilhos do Mundo e da jornalista Criz Azevedo. O roteiro teve o apoio de empresas regionais como BC&M Advogados (Porto Alegre) e Agropecuária Sallaberry (Pelotas), além do suporte do Sebrae Costa Doce e de algumas secretarias de turismo. A viagem usou como base o Caminho Farroupilha elaborado pelo Sebrae RS e oferecido, como pacote turístico, pela Tchê Fronteira Turismo, de Bagé/RS.
Índice das postagens da #RotaFarroupilha:
Rio Grande - 1ª parte: a cidade e suas histórias.
Rio Grande: onde comer e dormir.
São José do Norte e sua travessia apaixonante.
Caçapava do Sul - Segurnda Capital Farroupilha.
Comprando pilchas na Rota Farroupilha: Agropecuária Sallaberry.
Piratini: primeira Capital Farroupilha.
20 de Setembro: o Dia do Gaúcho.
Pelotas: Onde ficamos? No Hotel Curi e foi delicioso.
Rio Grande: onde comer e dormir.
São José do Norte e sua travessia apaixonante.
Caçapava do Sul - Segurnda Capital Farroupilha.
Comprando pilchas na Rota Farroupilha: Agropecuária Sallaberry.
Piratini: primeira Capital Farroupilha.
20 de Setembro: o Dia do Gaúcho.
Pelotas: Onde ficamos? No Hotel Curi e foi delicioso.
Bagé, A rainha da Fronteira.
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