Cartagena das Indias: as Aldravas da Ciudad Amurallada.

Quando parti para Colômbia queria o calor do sol caribenho, passear entre casas coloridas e sacadas floridas de Cartagena, além de pintar de jambo a pele, enquanto curtisse as águas serenas, mornas e cristalinas das ilhas.

Mesmo apaixonada pelo mar e sempre de braços abertos para os encontros, os primeiros dias seriam dedicados para caminhadas, para descobrir os encantos das ruas da Cidade Murada, tão cheia de cores e encantos históricos.

Para alguns lugares parto cheia de informações, conhecimentos prévios e, para outros, como aconteceu nesse caso, apenas com imagens turísticas e sem planejamento. Sabia que me encantaria com a parte histórica, com suas raízes espanholas, cores latinas e isso bastava. Queria o prazer de desbravar um tanto da arquitetura local, nos intervalos entre muitos e infindáveis banhos de mar.

Qual minha surpresa? Nem só de casario colonial, balcões de madeira entalhada e muitas flores seria feito meu encanto. Nem só de caminhos, mas de muitas portas e seus sentidos.

Portas em estilo muito próprio, em madeira ou latão, antigas ou contemporâneas, todas dando um charme especial aquele conjunto de edificações coloridas e tão cheio de vida.

E as trancas? Lindíssimas.

Janelas com gradil em madeira, com entalhes as diferenciando.

Rosetas e mais rosetas, quem sabe apontando a riqueza de seu proprietário, como costume europeu, ou apenas enfeitando o acesso das residências tão bem cuidadas.

Portas tão lindas não foram objeto de minha paixão apenas pela forma, entalhes ou rosetas, mas pelo que de principal as diferenciam, que lhes dão toque pessoal e um charme especial: as aldravas!

Por onde quer que se ande na cidade murada as aldravas, aqueles simpáticos batedores de porta, saltam aos olhos. São muitas, de muitos modelos e ganharam minha total atenção.

Nas caminhadas, diurnas e noturnas, fotografar as aldravas se transformou numa brincadeira. Fiz centenas de imagens, aumentando em muito minha coleção. Por onde vou fotografo os simpáticos batedores. Em nossas andanças pela Toscana encontrei muitas e escrevi sobre elas - Argolas, Sereias e Seres Mitológicos: as Aldravas pela Itália.

Enquanto fotografava não sabia se haviam sentidos para aquelas formas e seres, como há na tradição italiana, portuguesa ou marroquina. Ao retornar pesquisei e pouco encontrei, acredito que estão mais ligadas aos símbolos de fartura e proteção ou, talvez , apenas usadas em decorrência do hábito trazido pelos colonizadores. Difícil precisar, sem uma pesquisa mais profunda. Na tradição portuguesa há o uso de elementos do mar, ligados as profissões e ao instinto explorador daquele povo. Já no Marrocos o uso tem um sentido prático religioso, diferenciam o sexo de quem está a porta e permitem à mulher saber se pode ou não abri-la. Esqueci os sentidos e me deliciei explorando as possibilidades, brincando pelas ruas da cidade histórica.

De dia...

... ou nas noites quentes!

A graciosidade das aldravas com motivos marítimos, das sereias até a pequena e simpática tartaruga.

Peixes...

... muitos voam...

... e alguns anjos, simpáticos.

Sempre encontro muitas aldravas representando animais. Os leões e lagartos são os campeões, sempre.

Qual a surpresa em Cartagena? No reino animal havia um elefante dourado!

Um animal feroz ou um ser mitológico sempre espantam os maus espíritos, não?

Há a mão que bate à porta e outros que são apenas práticos.

Junto ao mar, fundada por navegadores, nada mais simbólico do que proteger a morada com Netuno, o Deus dos mares, empunhando seu tridente.

Quantas aldravas mais eu vi pelas ruas da cidade? Há centenas, de muitas formas e contrastando com portas de muitas cores, mas essas eu deixo para que garimpes pessoalmente, enquanto descobres os encantos de uma terra chamada Cartagena das Índias.