Fui ao Rio amar, encontrei o MAR.




"Meu bloco de notas anda tão mudo, abandonado.
Talvez porque meu coração ande meio apaziguado, anestesiado.
Época de ondas mansas, um tanto serenas, insossas.
Deixei a paixão, num canto do coração. 
Saí para ver o MAR, para amar".


Na minha história de muitas nuvens e tempestades com o Rio de Janeiro, faltava uma paixão, algo que convidasse a voltar, que me fizesse sorrir. Finalmente a dita Cidade Maravilhosa sorriu em muitas cores para mim, me abraçou e, ao se despedir, disse aquele até breve aconchegante. Fui abraçada pelo MAR. 



O Museu de Arte do Rio de Janeiro foi daqueles encontros especiais. Instalado na Praça Mauá, unindo o moderno de um prédio de linhas contemporâneas com o histórico do Palacete Dom João VI, conta com exposições transitórias espetaculares, além do acervo da casa. 


Chegamos sem expectativas, procurando um pouco de cor para um dia cinzento, na sequência da decepção que tivemos com a Casa Daros. Encontramos a praça revitalizada, embora ainda em obras, cheia de vida, de crianças correndo e o museu lotado. Os espaços são amplos e a movimentação não atrapalhou em nada nossa visita. 



Nos perdemos pelas galerias, andamos sem pressa, visitamos e revisitamos os ambientes, curtimos cada um dos espaços das exposições. 

Encontramos um pouco do Rio antigo, de sua história. 




Tarsila nos chamou, mas meu grande encontro foi com Kurt. 

A exposição "Tarsila e Mulheres Modernas no Rio" é a grande atração da casa, no momento. Com um conceito bastante interessante, reúne obras da artista entremeadas com as histórias de mulheres à frente de seu tempo, que brilharam no Rio e para o Mundo. 


Espaços bem aproveitados e uma história contada com encantamento, num entrelaçamento de tecnologias. No espaço não era possível fazer registros fotográficos, algo com o que tenho certa implicância, mas não lhe retirou o valor. Os espaços amplos do museu permitem uma perfeita disposição das obras, dentro de uma cenografia que ajuda no encantamento. 


Por detrás das negras e dos coqueiros das obras de Tarsila, sempre encontrei detalhes. Recordo que na infância, ao explorar livros de história da arte de minha mãe, observava as perspectivas robustas que a artista dava para suas obras, mas sem perder de vista a vida que dava aos seus personagens através das distinções de olhos e narizes, de curvas e raízes. Trazer para a luz outras mulheres que foram essenciais para a conformação social brasileira, nos séculos XIX e XX, a partir de Tarsila, beirou a perfeição. Naqueles espaços encontramos Mercedes Baptista, Clarice Lispector e sua Helen Palmer, Pagú, Leila Diniz e Lota de Macedo Soares, grandes nomes que impuseram a presença feminina e seu valor social para uma sociedade dominada pela figura masculina. 

De Tarsila e tantas mulheres partimos para explorar as demais galerias. Não havia exposição desinteressante. 

Fui atraída pelas fotografias, por algumas lentes e máquinas antigas e encontrei Kurt. A exposição "Kurt Klagsbrunn, um fotografo humanista no Rio (1940-1960)", conta um tanto da história do Rio e de sua sociedade na época, através das lentes do austríaco judeu, fugitivo do regime Nazista. 


Como profissional fotografou a sociedade carioca em tempos de sede do governo federal, com suas grandes festas e todo o glamour dos anos 40-60. Mais que isso? Ganhou as ruas e registrou "as gentes" da cidade. Os olhares e expressões estão ali, no quitandeiro, nas crianças com suas pipas e nos jornalistas no café. A famosa Cinelândia é mostrada na descontração de seus frequentadores, dentro de uma coreografia urbana captada por um olhar sensível. 


Em tempos onde tanto discutimos a sorte de refugiados das guerras, da miséria e dos desastres naturais, perceber o quanto o Brasil foi formado e transformado pelos povos que aqui buscaram amparo, ilumina. Termos a sensibilidade de perceber o que podemos receber ao abrirmos as portas e estendermos a mão, nos tira do mundo da subtração e nos joga no da multiplicação. Saber viver as diferenças é um aprendizado, uma escolha entre caminhos. 


Tenho pensado muito o que seria o Rio Grande sem os italianos, alemães, africanos, poloneses, judeus, ciganos, sírios, libaneses e outros que por aqui aportaram com sua cultura, ideais e religião. Que Brasil teríamos sem o sincretismo religioso? Qual seria nossa cor, afinal? Somos os tons dessa mistura, tão bem retratada pelo olhar sensível de Kurt. 

Tarsila me encheu de cores, mas foi Kurt quem me emocionou. 

Numa caixa tão cheia de histórias, o que encontraríamos no terraço? O mar visto do MAR. O olhar sem horizontes, o antigo e o moderno, lado-a-lado. 




Momento para fotos, muitos registros e sorrisos. 


Horas depois, espaços visitados e revisitados, era chegada a hora do pecado da gula. Antes uma passadela na lojinha do museu, perfeita, cheia de estilo. 


Um visita cheia de cores e novos amores! 



2 comentários

  1. Que bom saber que minhas amigas gaúchas se encantaram com o Rio, que não é só praias. Assim como o Cristo Redentor estaremos sempre de braços abertos esperando que retornem pra descobrir outros encantos dessa cidade.
    Beijocas e bom retorno para POA
    Lindo post

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    1. Voltaremos, muitas vezes, pois revisitar amigos é sempre delicioso. Adoramos a companhia de vocês, querida. O Lilian Tour foi o máximo!!!! BjO!!!

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