Colocamos o povo para caminhar por Porto Alegre.
Sim, o #TchÊncontro ganhou as ruas do Centro Histórico da Capital dos Gaúchos, para que todos pudessem ver um pouco do que preservamos de nossas raízes açorianas e o quanto a arquitetura européia ditou moda por aqui.
Para que pudéssemos percorrer as ruas de forma mais organizada, pedimos para que a turminha do Free Walk POA abrisse uma super brecha na agenda e fizesse uma edição especial, numa sexta-feira.
O ponto de encontro foi no Mercado Público, onde a turma se reuniu para o primeiro almoço, enquanto uns retornavam do passeio de barco e, outros, chegavam do aeroporto.
Percorremos parte do Centro Histórico, partindo do Mercado Público, passando pela antiga estação dos Bondes, onde paramos para ouvir um pouco das histórias e estórias que envolvem as primeiras décadas do século passado.
O Centro Histórico é um lugar para se olhar para o alto, para papear e trocar impressões. Alguém duvida?
Da estação dos Bondes atravessamos a Galeria Chaves, prédio histórico que pertenceu a família Chaves Barcelos. O local ainda preserva seu charme arquitetônico, elevador com portas de ferro sanfonado e o piso hidráulico, lindo.
Passamos pela Rua da Praia, aquela que não tem praia. Demos uma parada no antigo Largo dos Medeiros, ponto de encontro de jornalistas nos anos 20/30 e um local cheio de histórias.
Alguns minutos na Praça da Alfândega para observar a importância do Porto para o crescimento da capital e as influências arquitetônicas, do portal do cais até a antiga Farmácia Carvalho.
Do eclético dos prédios do Margs e do Memorial do Rio Grande do Sul, com detalhes de barroco alemão, passando pelo art déco do antigo Cine Imperial (futuro Centro Cultural da Caixa) até o art noveau da antiga Farmácia Carvalho (atualmente, anexo do Banco Safra).
Respiramos fundo e subimos a lomba (sim, por aqui aclives/declives são lombas) e chegamos na Praça da Matriz, com uma passadinha pela Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul - fechada para restauração. Uma conjunção de estilos, eclética por natureza, mas uma construção Positivista, por excelência. Embora de metragens tímidas, o prédio possui um interior espetacular e apaixonante.
Saímos da Praça da Alfandega, nosso centro cultural, para chegar na Matriz, o centro do poder do Rio Grande do Sul.
foto acervo particular: 06/2015
Palco de muitas lutas, de manifestações marcantes como a Campanha da Legalidade e de greves históricas, como a do Magistério na década de 80, nela estão reunidos os poderes estaduais.
Na parte baixa, o Palácio da Justiça (1953/68), um exemplar da arquitetura contemporânea. Nossa Deusa Themis simboliza a Justiça que desejamos, sem venda (pois por aqui ela não é cega) e sem a balança (pois não desejamos que a Justiça tenha pesos e medidas).
Ao lado do Palácio da Justiça, nosso amado Teatro São Pedro, o sobrevivente, aquele que renasceu das cinzas pelas mãos e pelo sonho de uma judia alemã, sobrevivente do nazismo e refugiada de guerra, Eva Sopher.
No outro lado, o Palácio do Ministério Público (1857). Construído por ordem do Visconde de Pelotas para ser a sede da Assembléia Provincial, com a proclamação da República ali foi instalada a sede do Governo, até a construção do Palácio Piratini, em 1921. Utilizado também pelo Poder Judiciário, podemos dizer que foi o único prédio que, num momento ou outro, serviu de sede para todos os poderes. Um tanto abandonado, sofrendo com o peso dos anos, foi adquirido pelo MP, restaurado e devolvido para a comunidade em 2002.
Na parte alta o Palácio Piratini, sede do Governo do Estado. Construído nos anos 20, em substituição ao Palácio de Barro, conforme projeto de um arquiteto francês. Externamente sóbrio, possui um dos salões mais lindos do Brasil, o Negrinho do Pastoreio, com pinturas de Aldo Locatelli. Sobreviveu a Campanha da Legalidade (1961), pois o bombardeio determinado pelo governo Federal não foi acatado e levado a termo pelos militares da Base Aérea de Canoas.
O Palácio Farroupilha (1955/67), ao lado, é a sede do Poder Legislativo. Construído onde existia o Auditório Araújo Viana, de modo a permitir a reunião dos poderes estaduais, sendo construído em contrapartida o auditório já tradicional no Parque Farroupilha. Conforme projeto do arquiteto paulista Zolko, foram utilizados materiais nobres em seu interior e modernistas em suas fachadas, como ligas metálicas e vidro. O mais belo, para mim, são os painéis de Vasco Prado na fachada externa lateral.
Junto ao Palácio, a Catedral Metropolitana de Porto Alegre, com seus espetaculares painéis azuis. Fugindo dos arquitetos alemães e franceses responsáveis pelos mais belos e importantes prédios históricos da Capital, a Catedral é projeto de um italiano. De traços leves e cores externas, levou décadas para ser concluída (1921/1986). Com uma das cinco maiores cúpulas do mundo, é conhecida por seus mosaicos coloridos, executados pela Escola de Mosaicos do Vaticano.
Ao centro, a Praça Marechal Deodoro da Fonseca - Praça da Matriz. Para mim, gaúcha apaixonada, muito mais que uma praça, um simbolo. Conta com o monumento mais instigante da Capital, uma verdadeira Cartilha Positivista, como contei aqui.
O monumento a Júlio de Castilhos está voltado para o futuro, para o rio, para o país que está ao norte. Na parte de trás do monumento, um jovem gaúcho, pilchado em seu cavalo, voltado para a sede do governo, a inspirá-lo.
Um mosaico de pedras portuguesas formam no piso um grande Sol, com raios que iluminam o Palácio Piratini e o Palácio Farroupilha. Um conjunto de elementos cheios de sentidos.
Havia muito mais a ser visto, muitos prédios espetaculares no entorno, mas o tempo era curto, a tarde quente e o próximo compromisso nos chamava. Encerramos o Free Walk POA edição especial para o #TchÊncontro no Viaduto Otávio Rocha - Viaduto da Borges, aquele que ligou a parte baixa a alta da cidade, que permitiu que a cidade se expandisse.
Lindo e abandonado.
Meu muitíssimo obrigada aos meninos do Free Walk POA, pela gentileza de desorganizarem a vida para nos contarem histórias.
Informações:
O projeto não possui fins lucrativos, mas cada um pode auxiliar através de doações ao final do percurso, aquisição de camisetas e livros com as histórias e causos da cidade ou, ainda, com uma avaliação no TripAdvisor.
Centro Histórico: todos os sábados, com saída do Chalé da Praça XV, às 11h.
* as imagens do #TchÊncontro serão, muitas vezes, das lentes daqueles que estiveram conosco, que fizeram, efetivamente, o Encontro.
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