Não
sou boa com roteiros internos, gosto do amplo, de planejar as cidades, os
caminhos, mas quando chega o momento de listar lugares para visitar e horários
para fazê-lo, acabo deixando ao acaso. Normalmente decidimos para que
lado vamos, o que veremos, no dia e sem uma hora prevista. Muitas vezes saímos
para ir em determinado lugar, dobramos uma esquina e não voltamos, eventualmente
aquela atração que estava anotadinha acaba ficando para uma próxima
oportunidade (quem sabe, né?). Significa dizer, claro, que deixamos de ver
muitas das atrações ditas imperdíveis, que são trocadas por uma caminhada sem
rumo. No geral, tem dado certo. Isso não significa que não tenha minhas
preferências em cada lugar.
O
que eu desejava ver em Florença? Enquanto preparava meu roteirinho toscano, não
me furtei de verificar cuidadosamente o que visitaria na cidade, uma vez que as
opções são vastíssimas e o tempo insuficiente – tem lugares que uma
vida inteira parece ser insuficiente para desbravar. Então, selecionei várias
opções, inclusive os excepcionais afrescos do Palazzo Medici Riccardi.
O
núcleo original da construção data de 1464, quando erigido por ordens de Cosme
de Médici, o Velho.
Já
ouviste falar da Casa de Medici? Uma forma de se referir a família que dos anos
de 1300 até 1737 construiu, como quem tece uma teia, uma cadeia de interesses
econômicos e políticos que os manteve no poder por séculos. Começaram como
comerciantes e expandiram seus negócios e domínios até se transformarem em
banqueiros, quando assumiram o Poder Político de Florença, após o Ducado de
Florença e, ao final, do Grão Ducado da Toscana. Ao que parece, nada se deu ao
acaso, com o apogeu financeiro da família, seus membros passaram a casar os
descendentes com integrantes das mais importantes e abastadas famílias européias.
Os matrimônios alargavam terras, reforçavam os cofres e fortaleciam o poder político.
De matrimônio em matrimônio, a família contou com duas Rainhas de França,
Catarina e Maria de Medici. O que mais seria necessário para lhes dar a
hegemonia pretendida? Estarem de braços dados com o poder religioso, de
preferência bem junto aos cofres do Vaticano. Então, além dos matrimônios bem
traçados e acordados, muitos filhos rumaram ao clero, ao alto clero. Quatro
Papas saíram da Casa de Medici – Papa Leão X, Papa Clemente VII, Papa Pio IV e
Papa Leão XI. Por aproximadamente 400 anos estiveram em destaque na vida social, religiosa e política europeia, com marcas no patrimônio cultural italiano, especialmente
de Florença. Apoiaram artistas como Donatello, Filippo Lipp e Michelangelo e muitas das obras encomendadas por eles formam hoje o acervo da Gallerias degli
Uffizi.
Enquanto
expandiam seus negócios pelas principais cidades européias, com filiais de seu
Banco, foram responsáveis pela construção de muitos dos principais prédios de
Florença, incluindo ai o Uffizi, o Palazzo Pitt e o Palazzo Medici. Além de
marcos arquitetônicos, são realçados por traços artísticos espetaculares,
vistos em afrescos e demais elementos decorativos. Em muitos lugares vemos o Brasão dos Medici, esculpido - diferente, com bolinhas, que alguns dizem simbolizar as moedas da família de banqueiros.
O
Palazzo é projeto de Michelozzo, imponente e discreto como desejou o Velho, com
um lindo pátio interno. Um misto de características Medievais e Renascentistas,
que lhe dão uma aparência externa sóbria e um interior rico, luminoso e
colorido. É um encanto. Posteriormente, ao ser vendido para a família de
banqueiros Riccardi (1659) foi ampliado, sofreu intervenções diversas, mas
manteve sua essência e beleza.
Como
se trata do prédio que sedia o Conselho Provincial, as dependências são apenas
parcialmente abertas à visitação pública. Enquanto um grupo faz a visita, o
outro aguarda. Então, não se pode permanecer por tempo indeterminado no local,
há um trajeto sinalizado, alguns seguranças, mas a visitação transcorre
tranquilamente.
Já
havia visto fotos, deixei para vê-lo no último dia, o que proporcionou que passássemos
diversas vezes por ele antes de conhecermos seu interior. Sua fachada pesada,
em pedras, se suaviza em direção ao céu, uma vez que as pedras de relevo
bastante irregular junto ao solo vão se aplainando e suavizando até o topo. As
janelas em arco inteiro, ao contrário da regra, se abrem em duas, dando um
estilo próprio ao projeto. Os traços medievais, com detalhes renascentistas,
não me encantaram. A cereja do bolo estava me esperando no interior, claro. Não achei fotos da fachada externa, apenas de seu interior.
Passamos por algumas salas, corredores e por um dormitório. Duas
galerias abertas a visitação são espetaculares. A Capela dos Magos que traz afrescos de
Filippo Lipp, complementados pelos de Gozzoli – esse incluiu o semblante de
alguns membros da família nos afrescos. É muito bonita.
Nada,
entretanto, se compara a Sala dos Espelhos (Galeria Luca Giordano). Espiem as
imagens e me digam se não dá vontade de ficar horas curtindo os afrescos e
detalhes. Dá, né?
A
Galeria dos Espelhos foi construída pela família Riccardi, já no século XVII.
Em estilo Barroco, numa cidade tipicamente Renascentista, no interior de um
prédio com traços Medievais – deslumbrante, claro.
Os
afrescos são baseados nas fases da vida – infância, juventude, maturidade e
velhice, bem como nas quatro virtudes cardeais – temperança, fortaleza,
prudência e justiça.
Na representação central, Júpiter e a Apoteose dos Medici - uma Dinastia de frente para Júpiter, filho de Saturno, pai de Minerva, Baco e de Marte, avô de Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Enfim, os Medici e o Rei de todos os Deuses.
Lançou mão de Minerva e Mercúrio na representação da maturidade:
Arrependimento?
Não ter levado comigo o resumo sobre as obras da Sala Giordano, teria
aproveitado muito mais a visita. A abóbada colorida e a decoração com estuques dourados e espelhos pintados formam um conjunto encantador.
Olhem essa representação de Netuno!
A Temperança é retratada através de um guerreiro, sobre o qual pairam as representações da preguiça, inveja e raiva (vícios representados por figuras femininas: pensem!
E o triunfo de Baco?
No canto esquerdo, de azul, a Justiça, empunhando a espada em uma das mãos e na outra a balança.
Hércules, no canto inferior direito, representa a Fortaleza, enquanto estrangula uma serpente.
Se
gostas de surpresas, da arte da pintura, ao passares na frente de um prédio sem
cor, de pedras rústicas e aparentemente sem tons, entre para se encantar com o
aquarela interna. Eu gostei!
Paula,
ResponderExcluirTive saudades de viajar consigo através das suas publicações!
A minha visita a Florença já data... tinha esquecido o quanto é mágica a cidade e encantador este Palácio!
Obrigada.
Beijinhos!
Bom revê-la por aqui, querida. Firenze é bela, não? Estou louca para retornar. BjO!!
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