Tão especial quando a gente se desnuda da roupa de turista, esquece roteiros, atrações imperdíveis e sai para caminhar, sem pressa. Num domingo, no Rio de Janeiro, saí para caminhar, para ver o mar.
Ler sobre a Urca é ser movido para o antigo Cassino da Urca, para o Pão-de-Açúcar e para os bares. E se não houver vontade de visitar, garimpar atrações? Então, será um dia perfeito para andar sem pressa, caminhar de braços dados, uma paradinha para uma refeição saborosa, para um bom papo acompanhando as ondinhas suaves do mar que fazem música ao se encontrarem com a mureta. Isso tudo acompanhado de uma câmera fotográfica? Uma delicia.
Estávamos em Copacabana, num inicio de tarde chuvoso, cheias de planos, quando decidimos trocar tudo por um passeio suave. Pegamos um taxi, saltamos junto a mureta da Urca e nos permitimos não fazer nada, deixar o tempo passar enquanto acompanhávamos o movimento das ondas do mar.
Reservamos algumas horas daquela tarde para flanar, entre chuviscos, pela tarde quente. Fotografamos, observamos e papeamos, muito. Tantos planos desenhados no ar, a decisão de que precisava me aproximar ainda mais do mar e que me levou a buscar abrigo no litoral gaúcho poucos dias após, o doce sabor de compartilhar daquela deliciosa brisa.
Víamos turistas apressados e permanecíamos por ali, às vezes um pouco inertes, curtindo cores, antes de nos aventurarmos nos sabores. Hum, quando a fome bate é hora de procurar abrigo nas mesas da vida, não? Deixamos nome de telefone na recepção do Bar Urca e retornamos para junto da mureta até que nos chamassem. Mesa liberada, junto das janelas, apertadinha (muito apertadinha), mas num clima excepcional.
O que pedir? Moqueca, claro! E estava apetitosa, mas nada de elogios rasgados. Como não ser apetitosa tendo como tempero a vista do mar? Impossível!
Como sobremesa uma caminhada a passos lentos, acompanhando a mureta, com paradas para fotografar, para observar a arquitetura simpática do entorno, espiar o movimento naquelas pequenas travessas de paralelepípedos e para conhecer a pequena e linda igrejinha.
A Igreja de Nossa Senhora do Brasil é quase uma capelinha, no alto, de frente para o mar. Sua entrada, no alto de uma escadaria de base dupla, dá a sensação para aquele que sai de poder seguir e caminhar sobre as águas. Singela, mas rica em detalhes.
Construída na década de 30, em estilo neocolonial hispânico, possui traços simples, onde a beleza pode ser encontrada nos detalhes. Sua fachada externa branca, contrastando com o azul dos azulejos existentes junto a base e sua porta pesada e escura, dão um equilíbrio de formas. No andar térreo há uma cripta, dedicada a Santa Teresinha.
Observaram que a pequena só possui uma Torre? Não encontrei referências que expliquem a ausência da segunda torre, especialmente se considerarmos a época de sua construção. Talvez seja uma licença poética, imitando as Igrejas Barrocas do século XVIII, onde a segunda torre era desconsiderada nos projetos arquitetônicos como medida de economia, uma vez que o fisco só passava a cobrar impostos quando a construção estivesse concluída. No caso das igrejas, essas eram consideradas com as obras encerradas quando as duas torres estivessem concluídas. Já ouviram falar no jeitinho brasileiro? Pois é, olha ele aí, arraigado, desde sempre.
De todas as belezas do entorno, um lugar bucólico, com ares de cidadezinha do interior, foram os barquinhos coloridos o meu deleite. Hora de deixar o tempo correr, os olhos se perderem no mar e a câmera encontrar as cores que desejava registrar.
Uma tarde perfeita!
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