MASP: finalmente, amigos!


O MASP é, seguramente, um dos museus que mais visitei. É emblemático, fica numa das avenidas mais simpáticas que conheço, num prédio maneiro e cheio de histórias, mas nunca mantivemos um bom relacionamento.


Lembro da primeira vez que o visitei, louca para explorar suas galerias e, após adquirir o ingresso e pegar o elevador, descubro que apenas um andar com obras do acervo estava aberto para visitação. Para piorar?  Nada de fotos. Pronto, não rolou paixão.

Apesar de minha implicância, virou passeio das manhãs de domingo a cada visita que faço a Sampa. Uma voltinha na feirinha de antiguidades, uma pausa no museu, mais uma voltinha na feirinha antes de ganhar, a passos largos, a avenida.


No último domingo não foi diferente. Segui o tradicional roteiro antes de ganhar as galerias e encantar os olhos. Ao ingressar na área do museu a funcionária alertou que não poderia usar o flash. Como assim, flash? Poderia sacar minha câmera e viajar entre ângulos e sombras? Sim, liberada a captação de imagens. Foi como fazer as pazes com um amigo, delicioso.


Não sabia quais exposições encontraria, além da "Processo", iniciativa da nova administração e que retira de alguns espaços as divisórias, deixando galerias livres, amplas, com as obras expostas apenas nas paredes principais e em cavaletes, como no principio. Mas deixei para viver essa nova experiência por último. Fui primeiramente ao básico, tradicional.


Exposições diversas num mesmo ambiente, muitas obras já eram minhas velhas conhecidas, mas é sempre um prazer revê-las. Bonnard, Monet e Portinari, entre outros. Tenho uma história querida com Bonnard, além de curtir a forma como o homem comum brasileiro, com traços tão próprios de nossa miscigenação, foi retratado pelos pincéis de Portinari. 




Painéis coloridos separam os ambientes, com vãos e interligações, uma forma simples que dá um charme muito próprio ao espaço. Dessa feita, separando exposições como "O triunfo do Detalhe e depois, nada" e "Deuses e Madonas - a Arte do Sagrado". 





Curto como se preocupam com a acessibilidade, dão subsídios para que todos que visitam o ambiente tenham a possibilidade de firmarem um entendimento pontual, uma interpretação. Ao lado de algumas obras há, além da histografia, observações ou comparativos diretos da obra ou entre obras. 





Muitas obras são lindas, mas "Rosa e Azul - as Meninas Cohen D'Anvers", de Renoir, sempre me fará sorrir. A obra, há alguns anos, foi exposta por curto período no MARGS - Museu de Arttes do Rio Grande do Sul, causando alvoroço na cidade. Filas se formaram na Praça da Alfândega, sob os Jacarandás centenários, dia após dia, pois todos desejavam vê-la. Então Governadora do Estado, Yeda deu uma entrevista aos canais de tv e, toda alegrinha, larga a pérola - diz que o quadro das "guriazinhas" é lindo. Pronto, fez história. Dessa feita, exposta ao lado de uma tela de Liane Chammas. 


Há sempre homens e mulheres românticos, em belas e suaves formas. 



De todas as obras expostas, foram duas esculturas que me atraíram, imediatamente, como um imã. Embora façam parte do acervo do museu, ainda não as conhecia. Arte asiática - Guerreiros Chineses, em sua melhor e mais esplendorosa forma - terracota trabalhada (lokapala), nos mínimos detalhes. Esculpidas no período Tang (618-907 d.C), são obras raras e, ainda mais raras, as espalhadas pelo Mundo. Foi onde deixei o tempo correr, livre (e quase perdi a hora). A riqueza de detalhes, especialmente nas feições dos guerreiros, me impressionou, muito. 


Roupas trabalhadas em pequenas distinções de cores, ganhando forma, textura, movimento e beleza. 


Dentes e músculos faciais, esculpidos com precisão de formas, dando expressões únicas e encantadoras. Os detalhes das mãos, dando movimento ao personagem, trejeitos que dão vida a escultura. 


E o que dizer dos Dragões? Ricos em sentidos e traços, muitos que desconhecia, mas que pesquisei após o encantamento de domingo. O Dragão, segundo a mitologia chinesa, foi um dos quatro animais sagrados convidados para participarem da criação do mundo. Na visão oriental, o rei das águas e simbolo de vida longa e prosperidade. Não se confunde com o dragão ocidental, que cospe fogo, pois em verdade é um misto de vários animais: chifres de servo, olhos de coelho, orelhas de vaca, além de dentes caninos capazes de inspecionar o fundo dos mares. O que me dizem desses? 





Já havia lido sobre a renovação institucional do Museu, uma tentativa de utilizar a volta as origens como um atrativo para o público. Partindo de uma retomada do espaço físico, já que o prédio é o maior simbolo do museu, passando por uma abertura do acervo menos conhecido, até chegar na interação com o externo, com a cidade de São Paulo. O "MASP em Processo [in process]" já está com parte das instalações abertas ao público. Espaços mais livres e claros, com as obras expostas de forma mais singela. 



Gosto dos painéis coloridos que separam ambientes e recebem exposições, distinguindo as áreas por cores. Confesso, por outro lado, que a retirada dos elementos deu uma cor diferente para a Galeria do primeiro andar.


Espero, na próxima visita, encontrar os espaços já com outras etapas concluídas, como com a colocação dos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, que não cheguei a conhecer. Bom, resta desejar que a nova administração consiga trazer aos olhos do público mais e mais as obras do acervo do museu, tão rico. 

Para encerrar, um pequeno comentário sobre FoToS. A permissão de se fotografar o interior de galerias de arte e museus gera controvérsias - eu mesma tenho amigos que são fortemente contrários. Sou favorável, pois minhas fotos são minha memória externa, um dos meus maiores prazeres. Inclusive, o MASP jamais teria ganho um post no Mochilinha se não fosse essa abertura. Acho a regra válida, mas deve ser utilizada com bom senso, boas maneiras e com toda a educação que se espera para uma boa relação em sociedade. Minhas regras pessoais: fotografo espaços com poucas pessoas, dando preferência absoluta para os momentos onde não há outros visitantes junto a obra, fazendo isso de forma discreta e de modo a não interferir na esfera do outro, sempre sem flash ou som e, salvo exceções pontuais, não curto ser fotografada ou fotografar pessoas junto as obras. Então, sou favorável, desde que as capturas de imagens sejam feitas de forma discreta, apenas de obras pontuais e sem interferência no andamento normal da visitação. Claro, espero esse comportamento de todos, sou uma sonhadora. 


Nenhum comentário

Para o Topo