Uma das figurinhas carimbadas para quem vai a Paris é a visita a Catedral de Notre Dame, uma bela construção Gótica na Praça Parvis, na Île de la Cité.
Sempre que leio sobre ela, todas as atenções estão voltadas para seu interior, seus belos vitrais, o órgão e suas pilastras. Pensei que seria assim comigo também. Mas ao chegar, primeiramente sentei no jardim externo para descansar de uma longa caminhada e aproveitei para lançar os primeiros olhares sobre os detalhes tão bem marcados da arquitetura Gótica. Ai começou minha viagem por entre suas colunas, ogivas e esculturas. Então, não falarei do interior e de suas belezas de luz, tons e sons, mas apenas do quanto inovadora foram as técnicas aplicadas para erguer esse símbolo Gótico.
A Catedral dedicada a Maria teve as obras iniciadas no ano de 1.163, após sendo parcialmente destruída, reconstruída, servindo de palco para atrocidades na Idade Média - fogueiras no ano de 1.314, Coroação de Henrique VI da Inglaterra - durante a Guerra dos Cem Anos, 1.431, Coroação de Napoleão Bonaparte como Imperador - 1.804, Beatificação de Joana D'Arc - 1.909. De armazém de alimentos durante a Revolução Francesa, até ser restaurada e se transformar num ícone parisiense, a história se dividiu em séculos. Nem daria para falar disso e mais dos detalhes de seu interior, daria?
Notre Dame foi construída onde havia a primeira Igreja Cristã de Paris, em estilo Românico, a Basílica de Saint-Etienne. No apogeu do Poder Católico e sob o Reinado de Luis VII, todos os esforços econômicos foram voltados para a construção do novo templo, como simbolo de Poder. As obras se estenderam por décadas, ficando marcada a profusão de estilos arquitetônicos empregados por cada um dos muitos arquitetos responsáveis pelas obras, mas sempre dentro da perspectiva da escola Gótica.
As grossas e pesadas paredes de pedras do estilo Românico, suas esculturas esculpidas na rocha, sua horizontalidade e suas poucas janelas, foram substituídas pelos elementos que dão leveza ao Gótico: esqueleto de suporte estrutural externo, colunas, verticalidade, profusão de janelas, arcos de volta quebrada e arcos cruzados (ogivas), esculturas volumosas, entre outros.
Como a construção se deu em diversas etapas, sofreu influência das mudanças havidas ao longo dos anos, as várias escolas que foram transformando o estilo Gótico e, até mesmo, por elementos que o substituíram. Primeiramente sofreu influência do estilo Barroco, que substituiu túmulos e vitrais, após teve muitas peças destruídas durante a Revolução Francesa, até que em 1844 teve inicio um grande processo de restauro e revitalização, já dentro de uma perspectiva Romântica. A alavanca para sua revitalização foi o lançamento da obra "O Corcunda de Notre Dame" de Victor Hugo, em 1831.
As primeiras etapas da obra sofreram forte influência do Românico Normando, com painéis externos ricamente decorados, profusão de esculturas em pedra e esculpidas nos próprios elementos (exemplo são os capitéis - parte superior da coluna, normalmente ornado com motivos fitomórficos), planta em forma de cruz (latina). Entretanto, o estilo Gótico utilizou a cruz romana em substituição a latina, com suporte estrutural externo em substituição as estruturas em forma de caixão e se utilizou do emprego de clerestório para dar luminosidade, com o emprego de vitrais. Os elementos empregados no Gótico deram leveza e permitiram a verticalidade acentuada que se observa na Notre Dame, que a deixou esguia, dando a sensação de que a construção parte em direção ao céu.
O emprego dos principais elementos arquitetônicos do Gótico deram a faceta externa da Catedral a marca do estilo:
Arcobotante: construção dos elementos em forma de meio arco, que permite a distribuição do peso entre esses e as colunas, o que permitiu aumentar o pé direito, pois deu leveza as paredes. Estruturas arqueadas externas.
Arquivolta: várias voltas em arco quebrado, em degraus, decoradas por sequências de esculturas que acompanham a linha curva - parte superior dos portais de Santa Ana, da Virgem e do Julgamento.
Gárgulas: as famosas figuras mitológicas ou fantásticas, que são desaguadouros das águas pluviais e que as afastam das paredes, protegendo da umidade. Possuem o sentido de demonstrar que o "demônio nunca dorme, que é preciso se manter vigilante".
Pináculo: ponto mais alto de um elemento ou torre, usado como peso no cume das construções - contraforte.
Tímpano: espaço triangular de um arco, ornado, limitado por arcos ou por um corte em linha reta - portais de Santa Ana, da Virgem e do Julgamento.
Traceria: trabalho decorativo em pedra, em forma de renda perfurada ou revestindo áreas com painéis em relevo.
Encontramos todos os elementos clássicos do estilo na Catedral parisiense. A fachada ocidental (principal), talvez seja a que de forma mais clara marca os elementos. Ela se apresenta dentro de uma perspectiva proporcional, em três níveis horizontais e três zonas verticais, integradas por um conjunto escultório harmônico.
As zonas verticais são delimitadas por contrafortes. A transição de níveis é marcada pela "Galeria dos Reis" - 28 esculturas de 3,5m., representando os Monarcas da Judéia e de Israel.
O nível inferior conta com três portais - de Santa Ana (direita), da Virgem (esquerda) e do Julgamento (central).
O portal de Santa Ana possui o tímpano, que representa Maria.
O portal da Virgem, conta com seis patriarcas do Antigo Testamento e Reis sentados. O tímpano representa a coroação de Maria, a Virgem.
O portal do Julgamento é para mim o mais lindo e simbólico de todos, conjuga vários aspectos da fé católica. Podemos dividi-lo em cinco perspectivas, sendo interessante fazer a análise de baixo para cima, seguindo o entendimento bíblico. Temos Cristo entre os doze apóstolos (seis de cada lado). Acima do Cristo temos o Dia do Julgamento (representação da ressurreição dos mortos). O terceiro segmento precisa ser dividido em três blocos - a esquerda os escolhidos (boas almas), ao centro o arcanjo Miguel e o Diabo, enquanto a direita estão as almas condenadas. No último segmento do tímpano temos o Cristo Ressuscitado, no trono do Julgamento, ladeado por profetas e virgens. O quinto segmento são as arquivoltas, onde estão representados os escolhidos (com coroas) sendo recebidos por Abraão e os condenados, recebidos pelo Diabo.
O portal do Julgamento é para mim o mais lindo e simbólico de todos, conjuga vários aspectos da fé católica. Podemos dividi-lo em cinco perspectivas, sendo interessante fazer a análise de baixo para cima, seguindo o entendimento bíblico. Temos Cristo entre os doze apóstolos (seis de cada lado). Acima do Cristo temos o Dia do Julgamento (representação da ressurreição dos mortos). O terceiro segmento precisa ser dividido em três blocos - a esquerda os escolhidos (boas almas), ao centro o arcanjo Miguel e o Diabo, enquanto a direita estão as almas condenadas. No último segmento do tímpano temos o Cristo Ressuscitado, no trono do Julgamento, ladeado por profetas e virgens. O quinto segmento são as arquivoltas, onde estão representados os escolhidos (com coroas) sendo recebidos por Abraão e os condenados, recebidos pelo Diabo.
No nível intermediário temos a Rosácea - arcarias rendilhadas, traceria.
Tantos e tantos elementos característicos estão perfeitamente integrados no edifício, que com razão é considerado um simbolo Gótico. Para mim, gosto pessoal, as esculturas externas são um deleite para os sentidos. Ao contrário das esculpidas a partir dos elementos do estilo Românico, as existentes na Notre Dame são autônomas, ganharam corpo, forma e volume. Elas existem por si, não são mais elementos incrustados, entalhados na pedra. No estilo Gótico, as esculturas possuem um sentido de evangelização, se liberam das colunas (onde eram entalhadas) e ocupam os espaços de forma ordenada.
Pronto, precisava entrar e conhecer o interior? Claro, pois tudo que é bom, pode ficar ainda melhor. Mas deixemos isso para um outro capitulo, um outro olhar.
* muitos dos detalhes narrados aqui estão num trabalho de escola, feito há mais de vinte anos, lido antes da visita que fiz a Catedral.
* muitos dos detalhes narrados aqui estão num trabalho de escola, feito há mais de vinte anos, lido antes da visita que fiz a Catedral.
Muito lindas e conservadas pena que aqui deixam cair tudo nao há historia.
ResponderExcluirUm problema cultural, muito mais do que financeiro. Obrigada pela visita! BjO!
ExcluirAdorei o post! As fotos estão lindas e a sua narrativa me levou as aulas de literatura que tratavam um pouco do assunto romântico.
ResponderExcluirLindo, Paula.
Quero ver o interior!
Que bom que curtiu Tati!!! Uma horinha dessas o interior pinta no blog, também. Ela é muito linda! BjO!!
ExcluirEstou impressionada com a sua capacidade de descrever os detalhes!! Já parei várias vezes para apreciar a catedral (tanto na frente, lados e fundo) mas são tantos os detalhes que eu nunca fui capaz de absorver tudo.
ResponderExcluirAdorei o post!!
Bjim
Obrigada Gabi, é que detalhes são minhas paixões... hahahaaa!! Mas ela é linda e isso ajuda, bastante! BjO!!
ExcluirMuito bom o post. As fotos estão incríveis e a matéria bem explicadinha.
ResponderExcluirParabéns!
Gosto muito desse post. BjO!
ExcluirTenho um grande sonho de conhecer a Catedral. Adorei as dicas !
ResponderExcluirEla é lindíssima, em todos os sentidos. Torcendo para que consigas ir. Abraços.
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