De transparências, suavidade e cores: Murano.



Desde criança desenvolvi um gosto, digamos peculiar, por livros de história da arte, música clássica, objetos antigos, cristais, bibelôs e pequenas bugigangas - acho que um misto de heranças, talvez o que de mais forte meus pais tenham me passado de seus gostos pessoais. Fui criada ouvindo boleros, tangos, ópera e ouvindo malucos solfejando pela casa - confesso que me divertia muito com isso. E aquela infinidade de peças antigas e livros? Com o tempo fui descobrindo que são exigentes, requerem espaço, cuidados e as fui apelidando de "juntadores de pó". Duas mudanças depois, muitos ainda se encontram no depósito, encaixotados, pois resolvi levar uma vida um pouco mais leve. E esses gostares explicam o que virá a seguir, certamente. 

Jamais sonhei em conhecer Veneza, seus canais, suas gondolas. Não que não ache lindas as imagens tão difundidas da pequena cidade, mas acho lindas tantas coisas que não desejo adquirir ou conhecer e Veneza estava naquela listinha "se um dia for, fui". Já a Ná estava sempre querendo inclui-la em nossos roteiros e nessas férias foi o momento dela realizar seu desejo, e lá fomos nós, com duas mochilinhas, um ar descompromissado e o desejo de colher o que de melhor aquele lugar quisesse nos doar. E Veneza nos recebeu linda, mas nem por isso ganhou meu coração. Mas não pensem que inclui a bonitinha em nosso roteiro sem interesses pessoais, viu? Não sabia quantos passos me levariam ao hotel, mas sabia exatamente de quantas braçadas precisaria para realizar o sonho de conhecer Murano! 



Não pensem que me joguei a nadar, foi só uma figura de linguagem. Nos instalamos no convés de um Vaporetto e fomos curtindo o movimento das águas, os hábitos dos locais, navegamos, navegamos e desembarcamos na pequena e simpática ilha, de casas e objetos tão coloridos. 





Caminhamos bastante, por entre os canais, entramos em vielas, desembocamos em praças e, ao longo de todo o percurso, curtimos as belezas dos finos vidrinhos coloridos - cristais de Murano em todas as formas e cores. 




Na minha infância, lá pelos anos 70, minha casa era decorada com muitas peças coloridas, como vasos, cinzeiros, taças, além de muitos bibelôs, nas mais diversas formas. Entre os esses, havia muitos pequenos animais que minha mãe, dentro de sua habilidosa psicologia materna, costumava dizer para as filhas que as observariam e que, posteriormente, contariam para ela nossas peripécias. Se por um lado minha irmã já havia destruído muitos deles colando chicletes para que não vissem ou falassem, eu por minha vez, bem mais pragmática, apenas virava eles para a parede, deixando-os cegos. Assim, aqueles que haviam sobrevivido as técnicas nada delicadas de minha irmã mais velha, sobreviveram a mim e ainda convivem conosco, agora com o olhar bem mais livre do que naqueles tempos. 



Em determinadas épocas resolvi incluir algumas peças na decoração da residência. Ai chegaram alguns palhacinhos, uma tacinha aqui, uma porcaria ali e fui descobrindo como dão trabalho. Mas quando comecei a andar pelos canais, os lindos objetos coloridos começaram a ganhar meu coração. Tentei pensar o tempo inteiro que não possuo mais espaço para os exigentes juntadores de pó, mas o que me convenceu a não levar uma linda licoreira com seus simpáticos copinhos e um vaso maravilhoso, certamente, foi saber que ainda tinha dezoito dias de andanças pela frente e nenhuma disposição de arrastar um caixote. Então, resolvi curtir muito aquele lugar, analisar as diferenças de produção, fazer comparativos nas escalas de cores, respirar ares tão mágicos. E só.



Paramos por duas oportunidades para vermos a produção de peças, o trabalho tão célere e delicado dos experientes trabalhadores, a arte de cada um, suas habilidades únicas, percebendo como podemos ser especiais em cada obra que produzimos, de forma tão individual, incomparável. 





Claro que não sairia de lá sem lembranças, só optei pelas pequeninas, só recordações. E entre aquela infinidade de opções, duas canetas tinteiros, alguns pequenos animais, mais um palhacinho para minha coleção. Resisti as licoreiras e as belas taças. Os preços? Variando do acessível ao impagável, numa velocidade alucinante. 



Lembram da licoreira linda, azul como o mar? Pois é, o reflexo do vidro não ajuda, mas está ai. Agora, multiplique o precinho da bandeja por dez e terás o preço do conjunto! 



Não sou fã de verde, mas essa era um pouquinho mais acessível! 



Como chegamos numa estação e partimos por outra, pois desejava ver as rendas de Burano, acabamos circulando pelo comércio mais afastado do canal principal, onde acabamos encontrando peças com valores bem mais acessíveis - então uma dica: curta, caminhe, conheça as entradinhas e só depois puxe a carteira e comece a gastar, pois a economia será significativa. 



A Igreja é linda.




O lugar é ótimo para um pouco de atividade fisica, subindo e descendo degraus pelas pontes dos caminhos:




Curtindo as casinhas coloridas:



De posse de minhas sacolinhas, entrei no Vaporetto e, com a brisa esvoaçando os cabelos, vi as casinhas onde são produzidos tão belos e coloridos cristais ir se afastando, mas levei no coração aquela sensação gostosa de desejo realizado. 



Pensaram que eu teria deixado Veneza sem levar nenhuma tacinha, copinho, nada? Mesmo me considerando nada consumista, foi além de minhas forças, claro. Resisti bravamente em Murano, pois tudo pelo que me apaixonei era muito grande e muito caro. Mas vai que desço do Vaporetto nas proximidades da Piazza San Marco e nos embretamos pelas vielas, até que entre uma virada e outra, depois da travessia de uma ponte sobre um canal, me deparo com uma linda vitrine cheia de copinhos muito coloridos!! E daí a paixão bateu forte, de forma irresistivel e dois simpáticos copinhos viajaram comigo pela Toscana, Perugia, Roma e Lisboa, até repousarem suavemente em minha amada cristaleira em Porto Alegre. Mas diga ai se são ou não lindos??!!





3 comentários

  1. Muito boa sua descrição de Murano... Deu vontade de voltar!

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  2. Gostei muito da sua descrição da visita a Murano! Fiquei com vontade de voltar!

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    1. Que delicia Rosemary, essa é a intenção: inspirar!! BjO!

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