Um novo amor: Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, em Sampa.




Não faço segredo que Sampa furtou meu coração, única cidade onde pensaria em ter um apartamento - não digo residir, mas para temporadas. Curto explorá-la ou apenas revisitar meus cantinhos prediletos. Mas a cada visita, sempre uma nova surpresa.

Na última passadela, resolvi conhecer um lugar que estava na listinha há tempos, mas que sempre acabava substituído por uma passadinha na Pinacoteca, no MAC, Masp, etc. E no domingo, lá estava curtindo horas na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, no Morumbi.

Meu encanto pelo local começou pela história, por ser muito da vida do casal, especialmente de Oscar - para uma apaixonada por biografias, percebê-las um pouco, in loco, é sempre uma experiência encantadora. Confesso que o dia escolhido não foi muito apropriado, além de estar por demais nublado - faltaram raios de sol para dar cores aqueles caminhos.

Mais do que a área em si ou o pequeno museu, para mim a história de Oscar é a veia que dá vida a tudo que lá encontramos. Empresário, engenheiro, concebeu para si e para a família um sonho, uma bela residência dentro de uma área de mata nativa preservada, em parte, e reflorestada.


A casa, construída na década de 50, é um belo exemplar da arquitetura modernista - traços retos, um conjunto de pilares, vigas e lajes em concreto armado e a integração com a natureza, para lhe dar cores e tons. Vãos que se abrem em varandas e espaços preenchidos com tijolos maciços aparentes. Idealizada em dois tempos - estudo da área e traçado, após construção propriamente dita, serviu de residência para a família por duas décadas, até o falecimento de Maria Luísa. A ausência da esposa é o marco para a criação da Fundação e da conversão da área externa em parque.








A área de mata nativa existente foi previamente estudada, teve seus limites traçados e, só então, teve início a construção da casa, numa pequena elevação do terreno, deixando que a partir de suas bases se formassem caminhos, recantos e a natureza ditasse o ritmo. O parque é projeto de Teixeira Mendes, enquanto que a residência se deve aos traços de Arthur Bratke.

Para a formação do parque como se tem hoje, o contrato com o paisagista Teixeira Mendes previa a prestação de serviços ao longo de muitos anos, com a remuneração vinculada a cada espécie de árvore, "plantada e vingada". O trabalho não foi o de simplesmente escolher espécimes nativos e plantá-los, isso se deu dentro de um projeto maior, com metas a serem satisfeitas. Assim, ao longo dos anos se formou a maior reserva particular de São Paulo, com aproximadamente 25 mil exemplares. 

A estrutura da residência sofreu algumas alterações ao longo dos anos, especialmente para comportar a fundação. As pastilhas que originalmente recobriam parte das faces externas foram substituídas por mármore, bem como houve pequenas adaptações internas. Nada, entretanto, desconfigurou o projeto original de Bratke, permanecendo fiel ao projeto de 1953.


Com o falecimento de Maria Luísa e a decisão de deixar o imóvel, Oscar instituiu a Fundação, para possibilitar que tanto o parque, como o acervo pessoal de obras de arte, fossem preservados. Instituída em 1974, teve nos primeiros anos o tempo necessário para os ajustes que possibilitariam seu funcionamento. Oscar, falecido pouco depois da esposa, não viu seu projeto se transformar na bela Fundação, que somente teve as portas abertas ao público em 1980.

De fácil acesso, a Fundação se encontra dentro de uma área fechada na Av. Morumbi, onde o ingresso tem o custo de R$ 10,00 (dez reais). O acesso se dá pela área próxima à casa, hoje transformada em museu. No entorno, os caminhos e trilhas possibilitam ao visitante andar pela mata.


Infelizmente não estava em condições de empreender grandes caminhadas e o tempo nublado não estava convidativo. Optei por visitar, com bastante calma, o museu e seu pequeno acervo. Então, por ele teve início a minha estada naquele lugar.

A área do museu é pequena, delimitada pela área da antiga residência. Entramos e vamos passeando pelos cômodos, dormitórios, salas e saletas. Dispostas estão obras do acervo pessoal do casal, ampliado por doações, móveis e o escritório de Oscar - preservado. Há funcionárias que, ao serem perguntadas, expõe detalhes da história do local ou das obras - as quais devo as informações aqui declinadas. Havia pouco mais de uma dezena de pessoas circulando, num clima bastante intimista.

O acervo, embora não seja amplo, conta com peças interessantes, que estão divididas em três épocas: pinturas e objetos dos séculos XVII e XVIII - Brasil Colônia, pinturas a óleo e objetos brasonados do Brasil Império e, a terceira, intitulada Mestres do Século XX - obras de Portinari, Segall, entre outros. Na sala de estar, por exemplo, há uma linda arca. Já na de jantar, uma mesa ampla, com detalhes belíssimos. Há um bom número de telas e objetos do Período do Império, especialmente uma coleção significativa de condecorações, botões de uniformes militares e placas comemorativas. 

Entre os móveis, o meu preferido: uma cômoda papeleira, de jacarandá entalhado, estilo Dom José (século XVIII). 

Num dos cômodos encontramos uma coleção de leques e, entre os quinze exemplares, confeccionados a mão e presenteados em ocasiões especiais ou comemorativas, muitos com motivos alusivos a Família Real.


Como colecionadora de lindas juntadoras de pó (pequenas xícaras de épocas diversas), logo me encantei por duas cristaleiras que guardam uma linda coleção de cremeiras, maravilhosas.

Entre as telas, faço menção ao "Menino e Arapuca" - Portinari, 1959 e "Cais" - Di Cavalcanti, 1955. Há esculturas na parte interna e externa da residência, muitas espalhadas pelo parque (sendo que a essas meu acesso foi restrito, pois praticamente não caminhei pelo parque). Mas mencionaria a "Pieta" - Brecheret, 1955.

Tudo o que retrata um pouco da vida cotidiana sempre me desperta interesse. Assim, o escritório de Oscar foi uma parada obrigatória. Fechado ao público, pode ser observado a partir da porta - móveis em couro e madeira, muitos livros e fotos de família. Daqueles que temos a impressão que o dono foi na cozinha tomar um café e já volta.

Junto a entrada principal da residência, o que para mim foi mais belo - duas grandes telas, retratando Maria Luísa e Oscar. Sequer vi quem as pintou, mas o significado está na permanência dos proprietários naquele espaço, nem tanto pelo lado artístico.

Na parte térrea está estabelecida uma casa de chá, também com mesas na área externa. O local é delicioso, os quitutes gostosos, um espaço maravilhoso para horas de conversa. Como estava só, após a refeição, preferi curtir um banco sob uma árvore, aproveitando para escrever sossegadamente.




Há um amplo estacionamento no local, mas não percebi se há cobrança. Como estava sem carro, meu deslocamento se deu de taxi, a partir da Av. Paulista, onde me hospedo. O custo, num domingo, é elevado – mas deve haver alternativa mais acessível em transporte público.

Na área interna é vedado o uso de câmeras (embora o pessoal estivesse fotografando sem cerimônia). Para registrar as informações, a solução foi anotar as explicações e referências no bloquinho que levava comigo.

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17 comentários

  1. Nossa que lugar gostoso! Ainda não fui a SP, mas está cada vez mais no topo na lista.

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    1. E nós começamos a conversar sobre deixarmos de ir a Sampa, privilegiando outras cidades. No Rio mesmo, faz uns seis anos que fomos pela última vez. Mas daí, estávamos papeando com amigas outro dia, uma delas olha e diz: "podíamos marcar um finde esticado em Sampa, para visitar uns museus?". O que dizer? É destino!!!! Recomendo, fortemente, uma visita! BjO!!

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  2. Quero conhecer, mas ainda não tive tempo!

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    1. Eu quero retornar. Fernanda, vale muito, mas precisarei voltar para curtir um dia ensolarado por lá!!! BjO!!

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  3. Lindo relato! Me deu vontade de voltar... Fui uma ou duas vezes atras de apresentações de música classica que sempre tinha por lá. Voce curte as coisas boas daqui muito mais que mta gente que vive por aqui. Tipo eu.

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    1. Flora, acho que isso é normal, pois também não curto o que acontece em Porto Alegre e vivo metendo o pau na cidade. Exemplo? Tem recitais todas as quartas ao meio-dia, com entrada free, no Teatro São Pedro - mora do ladinho, vou almoçar no restaurante anexo e nunca aproveito o recital. Sempre aproveitamos mais a casa alheia, pois nosso único compromisso é passear, curtir! Claro que minha paixão pela cidade faz com que eu vá garimpando novos programas, mais do que o normal. Já estou pensando no que farei na próxima estada!!! Abraços!

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  4. Está na minha lista mas sempre achei longe e fiquei com medo de ir só,pois quando vou a SP meu marido vai para congresso. Com esse relato impossível deixar de conhecer.

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    1. Lilian, fui só e foi bom. Mas como disse, fui de taxi - talvez seja um pouco mais complicado de transporte público. Me hospedo sempre na Paulista e do hotel até a fundação foram aproximadamente 9Km. É um ótimo lugar para caminhar, pensar na vida e, estando acompanhada, para longas conversas!! BjO!!

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  5. Menina, como já disseram aí acima, você aproveita mais SP do que nós paulistanos da gema.
    Já estive na Fundação no século passado. Fiquei com vontade de voltar.

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    1. Quem sabe numa de minhas andanças, não marcamos um encontro com a dupla paulistana nos jardins da Fundação?? BjO, querida!!

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  6. Olá Paula!
    Adoramos saber que você aproveitou muito sua ida a Fundação.
    É muito gratificante ver que ainda existem pessoas sensíveis e capazes de apreciar com delicadeza e respeito cada detalhe desta história.
    Nós da Fundação convidamos a todos a participar desta experiência.
    Muito obrigada pelo relato, o texto está incrível.
    Abraço,
    Claudia Calandra
    Diretora Adm. Financeiro

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    1. Claudia, seu comentário só reforça a ótima impressão que tive da equipe, da gentileza com os visitantes e comprometimento com a história do lugar. Fui excepcionalmente bem recebida, sem que isso interferisse na liberdade de passear pelos ambientes. Retornarei, para melhor aproveitar o lindo parque. Abraço!

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  7. Olá, Paula, li o seu relato. Muito bom. Estive lá recentemente (apesar de morar em SP city toda a vida), fiquei surpresa ao notar que tivemos as mesmas impressões/observações... realmente, as cremeiras são lindas! Tirei foto (se quiser envio em particular), como não sou uma pessoa que tira foto de tudo, tirei sem saber que não podia. Até mais. Eliane

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    1. Eliane, agradeço o oferecimento, mas vamos deixar o pessoal na curiosidade? Também demorei para perceber a proibição, até porque o pessoal estava fotografando, mas estava lá nas plaquinhas. Curti bastante, fiquei na vibe de retornar. Meio fora de mão, apenas. BjO!!

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