Outro dia li que o uso de reticências nas redes sociais é um fenômeno bem feminino e, instantaneamente, percebi que as uso muito e pensei: devem ser meus hormônios aflorados. Mas, na verdade, não gosto de distinções de sexo, de gênero. Então por que as uso, pensei eu?
Os pequenos quadradinhos não combinam com minha escrita extensiva, espaçosa, a ser discutida, confrontada, a ser sentida. Talvez essa seja a primeira de minhas razões, mas não a mais importante.
Os pontinhos possuem um sentido de amplidão, de abertura de possibilidades, uma forma de compartilhar os pensamentos e sentimentos, além das letras. Uma maneira de em poucas palavras igualar aquelas conversas de horas, que temos com amigos especiais, que se renovam em palavras e se perdem dos ponteiros do relógio.
Cada vez que coloco as graciosas reticências desejo que meu interlocutor dê seguimento ao meu pensamento, o compartilhe comigo, me entenda, discorde, interaja além do dito. Leia além das garatujas, descubra o que se esconde atrás de cada letra fria.
Tão estreita e sem sentidos fica a Vida quando muitos são os pontos tímidos, solitários. Tão frio o entendimento ser apenas ao "pé da letra", quando simpáticos pontinhos nos permitem viajar, compreender, amar, dar cores as letras, sentidos únicos e plurais.
Um dos muitos vícios de linguagem que carrego, mas do qual não me libertarei, do qual sou uma prisioneira voluntária. Ao jogá-los em minhas frases, estou a lhe dar a chance de prosseguir, de se perder, de se achar, de se doar, de me descobrir ou, apenas, de pensar.
Quando receberes minhas reticências, as tenha como presentes que dou à pessoas especiais, com quem desejo sonhar, viajar ou, tão somente, compartilhar. As tome como uma oportunidade de ir além, ou através. Aproveite o caminho, a estrada que se descortina. As postagens nesse blog estão repletas de reticências, de vãos, de espaços - são lúdicas.
Pense que deixar a porta entreaberta possa ser um dos maiores atos de doação, de Vida que se pode oferecer à um amigo...
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