"SILÊNCIO E SOLIDÃO, O RIO PENETRA O MAR ADENTRO NO OCEANO SEM limites
sob o céu despejado, o fim e o começo. Dunas imensas,
límpidas montanhas de areia, a menina correndo
igual a uma cabra para o alto..."
* assim começa Tieta do Agreste, de Jorge Amado.
Rodamos "Pelos Caminhos de Jorge", cortamos estradas, navegamos rios e, finalmente, fincamos os pés na terra de onde saiu o barro que moldou a morena mais sedutora do agreste, Tieta.
Do Rio Real as dunas de areias dançantes, do pequenino vilarejo ao mar, com
passos serenos descobrimos Mangue Seco.
Quando decidimos cortar a Bahia, seguindo as letras de Jorge, escolhemos
começar rumo Norte, saindo de Salvador pela Costa Verde, em direção a Sergipe.
Fomos comemorar o aniversário de Naiá na calmaria de um lugarejo de pouca
badalação, lugar de curtir o barulho dos ventos nos coqueiros, de acompanhar as
marés, o vai-e-vem das águas do rio. Fomos passear pelas ruas de areia, por
onde Jorge andou e se inspirou, por onde as palavras ganharam forma e se
transformaram numa linda história de superações e resgate.
Como não nos hospedamos no centrinho do pequeno vilarejo, aproveitávamos o
final das tardes para visitá-lo. Uma pequena caminhada pelas margens do Rio
Real, alguns passos por dentro d'água, margeando o paredão de pedras e já
estávamos nas ruas de areia do povoado. Sim, um pequeno núcleo urbano no entorno
de uma Capela, azul como o céu.
Algumas poucas lojinhas e uma sorveteria, além de discretas pousadas e
restaurantes, tudo muito singelo. Lugar para ouvir o vento, curtir os pássaros
e deixar a imaginação voar, livre, para vislumbrar os personagens nas esquinas,
pelas casas... Não foi difícil ouvir Perpétua vociferando em nome do Senhor ou
sentir o perfume de Tieta trazido pela brisa que insistia em soprar. Parecia
que a qualquer momento uma das écharpes da bela personagem seria levada pelos
ventos e rolaria pelas areias brancas como nuvens, como na novela que tornou o livro ainda
mais conhecido e que coloriu nosso imaginário.
Sentar na varanda da sorveteria de Dona Sula, prima de Jorge ao que dizem, foi
como estarmos em nossa casa, eu tomando sorvete de cupuaçu, antes de um picolé
de tangerina (além de gorda, repetitiva - sim, repeti a sequência em todas as
visitas). A tranquilidade do local, a simplicidade dos moradores que perambulam
por ali, aquele boa tarde seguido sempre de um sorriso, nos deram uma acolhida especial.
Sentadas naquela varanda, deixávamos o tempo passar, enquanto fazíamos planos
para 2014, sonhadoras como sempre. Depois? Mais uma caminhadinha, a passada
pelo rio já com a maré acima dos joelhos e com aqueles tons dourados que
antecedem o anoitecer.
E o que mais há para fazer em Mangue Seco? Muito ou nada, de acordo com seus
desejos mais íntimos. Nós optamos por dias sossegados, então caminhávamos o
percurso entre a Pousada e o Mar (há opção de fazer o trajeto de buggy),
sentávamos numa das barracas de praia existentes no local, passávamos horas
curtindo as suaves ondas da praia de mar aberto e águas morenas e transparentes e, no retorno,
já extasiadas, aproveitávamos para molhar os pés demoradamente nas águas do Rio
Real, em frente ao qual fica a simpática Pousada O Forte.
O almoço? Por dois dias optamos pelas barracas na praia, com opções que iam de
ostras a moquecas e, na despedida, um almoço gostosíssimo na própria pousada.
Posso dizer? Em Mangue Seco encontramos os melhores sabores, o mais apetitoso
tempero em terras baianas. Perfumes que chegam antes dos pratos a mesa.
Lugar calmo, onde a vida começa cedo, da mesma forma que se despede logo no
inicio das noites. Os jantares são servidos muito cedo e às 21 horas todos
desaparecem, se recolhem a espera de mais um dia. Optamos por curtir o clima
intimista da pousada e não nos deslocarmos até o povoado. E foram jantares
deliciosos, bem pé na areia - sim, o restaurante da pousada está montado sob as
areias do Rio Real, um charme. E as moquecas? Inesquecíveis. Certeza que o aroma daqueles temperos me guiarão até Mangue Seco novamente. Ah, se esse post exalasse perfumes...
Como resolvi falar de Mangue Seco assim, "tudo junto e misturado", já percebi que ficará um post gigantesco. Mas posso reservar duas (!) letrinhas para os sabores dessa terra dourada? Pratos carregados no amarelo do dendê e no ardido (nem tanto para as gaúchas) da pimenta, produzidos por mãos baianas. Do Panachê de Frutos do Mar (a combinação perfeita da lagosta com frutas tropicais) até as inesquecíveis Moquecas, de aratu ou a baianinha de camarão, acompanhadas do pirão mais incrível, saboroso, apetitoso (...) que já provei na Vida! Que mãos abençoadas produzem os pratos na pousada, que sorrisos abertos os trazem até a mesa!! Fotos de refeições são um oferecimento da Ná, para nos deixar com água na boca, claro!
Paraíso descoberto. Mas como mesmo que chegamos até ele? Confesso que é bem
mais prático para quem parte de Aracaju - aproximadamente 70km. Mas saímos de
Salvador, uma esticadinha de aproximadamente 250Km, até o povoado de Pontal, Sergipe.
Chegando em Pontal, deixamos o carro num dos estacionamentos indicados pelo
Yves, proprietário da Pousada e ficamos esperando a lancha que iria nos
conduzir à Terra de Tieta. Depois dos 15 minutinhos baianos, segundo a Neide
(baiana) esposa do Yves (francês), ou dos 30 minutos marcados no meu relógio, o
Edson (funcionário da pousada, a gentileza e alegria em pessoa) nos apanhou
para cortarmos as águas do rio e desembarcarmos próximo a pousada. Dali uma
caminhadinha até a recepção sorridente de Neide.
E nossa mala? Essa ganhou transporte especial, já que areias não combinam com
rodinhas. Moderníssimo, não?
E a pousada? Instalações simples, pequenos
quartos, caminhas com mosqueteiros e uma área externa mega bem cuidada, com
redes, piscina, muitos coqueiros e uma linda vista. Ser recebida com simpatia,
gentileza, num lugar de sonho, está bom, não? A pousada é uma delicinha
"pé na areia". Oferece caiaques, arco-e-flecha, entre outros
entretenimentos, mas o pessoal que lá estava queria mesmo era sombra e água
fresca.
Começar o dia com um delicioso café-da-manhã, com os pés nas areias ainda frescas, curtindo a vista do rio, não tem preço (ops, até tem, mas nada absurdo, não).
Mangue Seco é seu lugar se chinelo no pé for o maior luxo que deseje em
sua estada, se estives disposto a descer da pequena lancha nas águas do rio e
afundar os pés na areia fofa até chegares na hospedaria. Se antes do banho de
mar não se importar de trilhar 800m e subir uma pequena duna antes de ouvir o
som das ondas. Se para você, a poucos metros do portão, deve ter uma
espreguiçadeira e um guarda-sol lhe esperando, acompanhados de um drink, Mangue
Seco não é o seu destino.
Foi o nosso destino, sonhado. E o sonho que virou realidade foi eleito como
aquele para o qual regressaremos, pois já nos sentimos um pouco intimas, de
casa. E na despedida, só um "até a próxima, querida".
Observação: a escolha da hospedagem se deu pela leitura do Miniguia de Praias do VnV e, como sempre, não teve erro.
Observação: a escolha da hospedagem se deu pela leitura do Miniguia de Praias do VnV e, como sempre, não teve erro.
Paula, adorei seu texto, voltei a 18 anos atrás quando visitei Mangue Seco, e fiquei muito feliz em saber que ainda continua igual, sem ter virado em um destino de turismo de massa, com aquela paz e tranquilidade que as vezes precisamos encontrar em nossas vidas para nos regenerar.
ResponderExcluirAbs
Não conhecia e vou lhe dizer: serenidade é a palavra que define aquele lugar! Delicioso. Abraços, Damares.
ExcluirMangue Seco com certeza entrou na minha lista.
ResponderExcluirFiquei morrendo de saudade das boas comidas baianas que comi no Morro de São Paulo.
Mas adorei a ideia do café da manhã com o pé na areia, isso que é vida, né não?!
:)
E o jantarzinho a Luz da Lua, com os pés na areia e as estrelas por testemunhas?? Beijo!!
ExcluirAi que invejinha!
ResponderExcluirBora programar uma estadia por lá, tipo 2015? Hahaha!!!! :-)
ExcluirSó o titulo já faz a gente desejar ler tudinho. Estou navegando por todos os textos do Caminho, que roteiro bem bolado, que textos lindos, que vontade infinita de conhecer esse rio, esse mar e essa capelinha. Isso é um poema, menina. Boa noite e parabéns. Bjoss
ResponderExcluirObrigada Lucia, Mangue Seco é especial, mesmo. Bjo!
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