MONTEVIDEO: perambulando pela Ciudad Vieja.


Das escolhas ao acerto no roteiro, tudo na Vida depende de nos conhecermos bem, sabermos o que nos atrai o olhar, não é mesmo? Seguindo meus instintos, reservei o sábado em Montevideo para curtirmos as esquinas e curvas dos caminhos, as cores e os sabores da Ciudad Vieja.


Como estávamos motorizadas, já havíamos passado nas proximidades no dia anterior, mas apenas para um contato visual, um Oi. Já no sábado o roteiro foi mega turistão quanto aos pontos indispensáveis e livre quanto aos trajetos. Assim, estacionamos na Plaza Independencia, saltamos na corrida e chegamos no Teatro Solis para o tour guiado das 11 horas (sim, andamos perdendo a hora por aquelas terras!).

A previsão do tempo para aquelas bandas não é nada precisa, muda a cada hora, por isso interferem tanto na vida meteorológica dos gaúchos, por certo. De um sábado de sol passamos a um dia nebuloso e muito, muito ventoso - e vento para mim é pior do que tudo, inclusive do que chuva, acreditem. E ventava naquele dia, como ventava!


O tour guiado teve inicio às 11 horas, em três grupos separados por idioma - português, espanhol e inglês. Todos fazendo o mesmo trajeto, ao mesmo tempo - mas funciona! O grupo primeiramente foi deslocado para o exterior do edifício (no vento), para as explicações arquitetônicas iniciais e depois levado a transitar pelas diversas dependências do teatro, tudo recheado com muitas informações e algumas surpresas, que certamente não contarei aqui - não é justo estragar as surpresas, não é mesmo?

Um dos detalhes que mais gostei foi acerca da restauração dos lustres originais existentes no Teatro. Nos foi relatado que a grande maioria das peças originais existentes no local desapareceram com o passar dos tempos, a exceção dos lustres, pendurados em segurança. Mas mesmo assim não escaparam dos efeitos dos anos, da falta de conservação, sendo que os cinco existentes se encontravam deteriorados, com peças de cristal faltando. Como a fábrica foi bombardeada na II Guerra Mundial, não havia como repô-las. Então, resolveram transformar cinco lustres parciais, em três completos e ainda guardaram peças para caso de necessidade de nova reposição. São lindos!


Do conjunto de informações recebidas, as que se referem as reformas empreendidas para a conservação do local e as referentes aos hábitos dos frequentadores, foram as mais interessantes. As instalações são maravilhosas, os cuidados com o local são surpreendentes, mas o que mais me interessou em todo o contexto foi a socialização da cultura. Só posso concordar com a escolha da cidade para ser a Capital Ibero-Americana para cultura em 2013.



Me refiro a socialização, pois pelo que informam quase que integralidade dos espetáculos possuem uma contraprestação social, quer seja com ingressos a baixo custo (algo em torno de R$ 9,00) ou por sessões sem cobrança para grupos específicos - estudantes, idosos, etc. Ao longo de toda a explanação isso foi muito frisado, especialmente no que se referem as apresentações da Comédia Nacional. Se observa a intenção clara de formar um público culturalmente exigente, para manter um certo padrão social - o que não se vê muito no Brasil. Assim foi a visita guiada, muita história, algumas divagações, uma arquitetura belíssima e algumas surpresinhas pelo caminho! Bom, o tour que tem previsão de uma hora de duração, se estendeu um pouco mais e antes da saída ainda aproveitamos para fazer algumas comprinhas na loja do teatro - essas pequenas lojas sempre possuem materiais interessantes.


Ao deixarmos o Teatro estava ventoso, bastante frio e cinzento. Fomos em direção a Puerta de La Cidadela, de onde partimos em nossas andanças para explorar as ruas e os encantos da Ciudad Vieja. A partir de uma das extremidades da Plaza da Independencia - na outra fica a conhecida rua de comércio 18 de Julho, ingressamos na Rua Sarandi e fomos curtindo os encantos daquela área.




Largos e extensos calçadões, que permitem andar sem pressa e sem sobressaltos, observando a arquitetura antiga e bastante preservada da área, onde predominam casarões, bem como dando uma espiada no comércio ambulante, uma paradinha no Museu, e depois de mais algumas quadras chegamos a Plaza de la Constitución e a Catedral Metropolitana.


A Praça é simpática, bastante movimentada e nas manhãs de sábado conta com um Mercado de Pulgas. Não são muitos expositores, mas há muito o que garimpar e para quem aprecia, é um mini paraíso. Namorei, namorei e não comprei nada, pois tudo o que gostei é estático - logo, junta pó!! Rá, e se junta alguém tem que limpar, não é mesmo?




A construção inaugurada em 1804 e que abrigava a Igreja Matriz de Montevideo passou por reformas ao longo das décadas, até ser elevada a categoria de Catedral Metropolitana, já em 1897. Sua importância transcende a vida religiosa, pois foi sede de importantes atos da vida civil do País, como a benção a primeira bandeira e o juramento a primeira constituição. Minhas impressões? Seu exterior não deixa supor a beleza interna - simples por fora, formosa por dentro. Mistura em sua arquitetura elementos neoclássicos e influência jesuítica. O exterior é sóbrio, em tom pastel, com pequenos e delicados detalhes nas torres. O interior já é imponente, com cores fortes e com belas capelas em seu interior.


Já meio da tarde, a fome começando a se fazer sentir, as ruas cada vez mais vazias, tratamos de rumar para o Mercado Del Puerto - um perfumado mercado público bem ao estilo uruguaio! Perfumado? Hahahaa!!! Depende da fome, é claro!



O Mercado, uma construção tradicional, deixou de ser um entreposto de secos e molhados para se transformar em gastronômico. Por conta da soma de arquitetura e gastronomia, é talvez o mais procurado ponto turístico da cidade. Estava lotado! No exterior uma feirinha de artesanato, uma pequena orquestra nômade, alguns ambulantes. No seu interior muitos restaurantes e algumas lojas de artesanato e lembranças locais. Imagino quem não tenha familiaridade com as Parrillas Uruguaias o que deve ser o encantamento. Muito fogo de lenha sob grandes gradeados que servem de grelha para as carnes que assam e que espalham pelo recinto um cheiro irresistível de churrasco. É o churrasco uruguaio. Mas a fumaça.... nem preciso dizer que é de cegar, não é mesmo? Mas os mais encantados, sentam nos balcões, bem junto ao fogo, curtindo o espetáculo. Acostumadas que somos as Parrillas, não há encantamento que nos faça ficar defumando corpo e roupas, em frente ao fogaréu - e sequer estava frio para tanto. Logo buscamos refugio no interior de um dos restaurantes e acabamos por escolher o mega turistão, o conhecido El Palenque - mas não houve arrependimento.




Embora muitos escolham os pratos com frutos do mar oferecidos, preferimos o básico e seguro assado, acompanhado de uma salada verde maravilhosa e sem sobremesa - sim, nossas sobremesas ficavam para serem degustadas junto a Freddo próxima ao Hotel! A paleta de Ovelha escolhida veio no ponto, com o tempero e a temperatura certas, preciso dizer mais? A carne uruguaia, proveniente de bovinos de origem européia (angus, brangus, etc) possui a maciez e a gordura no ponto certo! 

Para quem deseja adquirir uns palas, capas e outros em lã de ovelha, macios, os melhores vi numa loja no interior do Mercado.


E para o retorno, mais uma bela caminhada, sem rumo e na esperança de ao final chegarmos a Plaza da Independencia - fomos caminhando com cuidado, para não sairmos rolando depois do delicioso almoço. Como o roteirinho havia ficado no carro (sim, fazemos dessas com frequência), nem lembrávamos mais do Mercado do Artesanato quando nos deparamos com ele. Ali estava tudo de melhor que poderíamos querer em matéria de artesanato - ali meus pesos começaram a saltar do bolso numa velocidade estonteante: álbuns de material reciclado (o meu é lindíssimo), pequenos quadros, cartões, bloquinhos e um presépio (mesmo minha mãe sendo Católica, jamais tivemos um presépio em casa - então adquiri o primeiro, embora goste mesmo é de Papai Noel e seus Ajudantes). É um lugar para chegar com calma, passar e repassar as prateleiras, comprar para si e para presentear, pois há artigos de qualidade, bem acabados e que fogem daqueles imãs básicos espalhados pela cidade - igual, só vimos em Colonia Del Sacramento.





Mas há muito o que ver pelas ruas....



Vento nos empurrando, rumamos em direção ao carro, mas sempre curtindo as surpresas do caminho. E ao chegar a praça, o que encontramos? Um lindo Monumento em meio a pesadas nuvens - a Estátua Equestre de Artigas. Alguns registros e carro para que lhe quero? Saímos a rodar, já num final de tarde cinza, para nos deliciarmos com belas paisagens percebidas a partir do interior quentinho do carro alugado!


Na segunda-feira pela manhã o tempo estava aberto, um pouco ensolarado e numa passagem pelos arredores aproveitei para fotografar o Artigas, pois apesar das criticas que posso tecer acerca do destaque dado a tal personagem, o trabalho artístico é belo, imponente e mega bem conservado.


Muitos recomendam a hospedagem na Ciudad Vieja. Sei não: ao final da tarde de sábado o local já se encontrava deserto, com ares de total abandono. Inclusive recebi a recomendação de uma vendedora de tomar cuidados redobrados com a câmera e olha que ela já estava sob o casaco. Então, barbas de molho, se você a tiver. 

E o que faltou visitar no bairro? O Café Brasileiro, que não abre aos finais-de-semana, mas que ao final de nossa estada entrou no roteiro - depois conto! 

Apesar de ter recebido a recomendação de cuidados com a câmera, sabem qual a minha recomendação para aqueles que forem visitar tão belas paragens? Cuidados com o campo minado. Vocês tem idéia que não vi nenhum "pet" de estimação? Sim, são todos imensos, cachorros de grande porte, que deixam pelas ruas seus dejetos sem que seus donos pensem que juntá-los seria quase uma obra de caridade com os desavisados. Assim, para andar pelas ruas de Montevideo - famosas pela limpeza, o melhor é uma olhada para o entorno e três para o chão, salvo que deseje ser premiado com um sapato sujo! Eu dispensei tal experiência. 

Hum, ia esquecendo. Na outra extremidade da Plaza Independencia, já na entrada da área nova, antiga Ciudad Nueva, está o famoso edifício do Palácio Salvo - inaugurado em 1928 foi a torre mais alta da América do Sul por muitos anos.


Certo que não perambulamos pela integralidade do bairro, mas um dia é suficiente para explorá-lo como se deve, desde que você salte da cama um pouco mais cedo do que nós, é claro! 



Um comentário

  1. Saudades das vezes em que me hospedei no (finado) Hotel Plaza Fuerte. Bem ali no centro velho. Seu bar na cobertura guarda belas recordações...

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