MAM, uma visita que atravessa a porta e ganha o Parque.


Sabe aquele momento em que tudo se altera e  você tem um minuto para escolher o que virá a seguir? Assim surgiu na última sexta a idéia de fazer da visita ao MAM meu primeiro programa em Sampa. Acertei, escolhi ser feliz! 



O Museu de Arte Moderna de São Paulo é um pequeno oásis no Parque do Ibirapuera, integrando um conjunto que respira Arte e transpira Paz.

Arte Moderna não me atrai, no geral.  Mas dei sorte, pois a exposição principal era "Metamorfoses" de Maria Martins, com muitas esculturas - o que para mim facilita a interação. E me perdi por entre aquelas peças, por aquelas curvas. Num espaço absolutamente silencioso é como se aquelas obras tivessem vida, movimento. Permanecerão por lá, na Grande Sala, até 15/09. 







A edificação onde se encontra instalado possui uma face externa totalmente envidraçada, integrando aquele espaço com o Sol, com fachos de luz que interferem e alteram o sentido de cada uma daquelas obras, a cada instante, dando-lhes uma vida nova e efêmera a cada novo olhar. 



Agora uma informação mundana: o Restaurante do MAM é um charme, delicioso. Um pequeno buffet, com mesas junto a face envidraçada, com vista para a Oca e para o Jardim de Esculturas. Recomendo! Mas chegue cedinho, pois do nada começam a brotar pessoas de todos os lados e em minutos o espaço claro e silencioso se encontrava lotadíssimo e com fila de espera. 


Concluída a visita, o que mais fazer por lá? Ai entra o conjunto, todo o entorno. Escolhi caminhar, por sob a Marquise,  pelos jardins e pelos prédios do Auditório Ibirapuera e da Oca. Aqui entra minha paixão por elementos arquitetônicos. Importante lembrar que o conjunto do Parque do Ibirapuera é projeto de Oscar Niemeyer, da década de 50. 

O Jardim de Esculturas é onde você encontra um sentido de permanência naquilo que regra geral é mutável. É um espaço para a cor e para as formas. Seu sentido será encontrado de acordo com cada olhar, a cada estação do ano, de acordo com as luzes de cada dia. É um jardim de arte. 












A Marquise é uma construção impensável para os dias de recessão e de visão apenas prática em que vivemos. Que escândalo político-econômico teríamos se um governante resolvesse jogar tanto concreto armado e ferro numa obra sem um sentido utilitário?  Uma mera interligação entre as construções? Mas que beleza há naquela cobertura branca, que sob suas formas curvas e junto as suas pilastras abriga tantas manifestações, tantas pessoas tão diferentes entre si. Talvez o verdadeiro sentido das Artes não esteja atrás das portas daqueles belos prédios, mas ali, em meio àquela gente. Sobre tal obra há um texto maravilhoso da Revista Arquitetura e Urbanismo que merece uma lida. 


Um show de manobras de skate e patins. Mas muito mais que isso, um espaço para a conversa, para um picnic,  para caminhada, para uma rodinha de música. Naquele vasto espaço muitos apenas se abrigam do sol, outros refletem e quem sabe a maioria apenas sonha. Saber o que vai em tantas mentes e em tantos corações... Os sons produzidos por tantas rodas, de bicicletas, skate's e patins, formando melodias pela acústica tão própria proporcionada por aquela estrutura, ecoam pelo parque.


O branco daquela Marquise de aço e concreto armado contrastando com o verde do Parque, com os sons da grande cidade é de uma beleza infinita. Se tivesse comigo um livro, ali teria permanecido por horas... 


Numa breve caminhada cheguei ao Auditório, mas não interagi com a exposição. Por outro lado, amei as formas externas daquela edificação. Linda, não? Projeto baseado nas formas de um trapézio e de um triângulo, o que dá a edificação uma singularidade. Nos fundos, junto ao gramado, há uma porta de 18 metros de largura, que permite quando aberta a formação de uma platéia externa. Outro detalhe se sobressai, a marquise de aço junto a entrada, pintada de vermelho e que lhe dá um diferencial junto ao conjunto branco formado pela interligação com a Oca. Logo, ganhou um nome bem peculiar: "Labareda". O que lhe parece, assim de perfil? 



Minha última parada antes da caminhada que me levaria de volta ao portão por onde havia chegado, foi na Oca - Pavilhão Governador Lucas Nogueira Garcez! Àquele espaço dediquei a maior parte de meu tempo. Aquela bolha branca é a construção que, para mim, melhor se integra ao Parque, aquele espaço de verde e luzes. E foi por ela que minha lente foi atraída.  


E num início de tarde com temperaturas superando a casa dos 30 graus? É como passear no interior de um freezer colorido e cheio de vida. Um local onde o Sol que atravessa as muitas aberturas envidraçadas traz apenas cor e brilho, não seu calor. 



Na Oca encontrei a "minha" exposição, muita história: "O Imaginário do Rei" -  Visões do Universo de Luiz Gonzaga. A vida do Rei do Baião em prosa, versos, cores e esculturas. Uma biografia viva. 


A exposição, aberta ao público de forma gratuita, possui o mais belo folder que vi nos últimos tempos. Lindo, com um projeto gráfico excepcional, com muita qualidade em seus textos. Tanto que o guardei, o que não é comum. 


E quantos espaços, quantas obras bem distribuídas. Esculturas, imagens, fotografias, objetos, discos. Um deleite. 






Essa tela é de uma beleza impar...




Algumas horas depois de minha chegada ao Parque é hora de partir, deixar para outra oportunidade um olhar sobre os demais espaços que integram aquele importante conjunto. Mas aproveitei o deslocamento para empreender uma caminhada privilegiada, passando pela antiga sede do MAC e pelos jardins do entorno desse e do prédio da Bienal, onde grupos aproveitavam o frescor daquelas sombras para em rodas conversar e lanchar. Aqui cabe uma constatação das diferenças culturais e de hábitos cotidianos. Nós porto-alegrenses alardeamos nosso amor por nossos Parques, tão charmosos, mas os deixamos praticamente abandonados durante a semana, salvo por alguns que se utilizam de seus caminhos para caminhadas ou passeios com pequenos animais. Grupos reunidos sob as sombras das árvores? Apenas aos finais-de-semana, quando sentam pelos gramados para passar de mão em mão a Cuia do Chimarrão. A constatação de que aproveitamos muito pouco a vida cotidiana, infelizmente. 

Observação: E como aproveitar os últimos momentos e um pouco da sombra e do frescor dessas lindas árvores? Escrevendo esse post, no bloquinho de notas do smartphone, "in loco"! 





2 comentários

  1. Que texto lindooo, cheio de poesia!! Como sempre, adoro suas linhas!
    Eu já fui diversas vezes a São Paulo e nunca consigo ir ao Ibira. Tenho muita vontade de conhecer.
    E quando vi Luiz Gonzaga aí no meio, aí arrepiou!
    Que tal você me apresentar este lugar lindo em Janeiro? Mais um motivo para ir para SP com a Ná! Vambora? :)
    Beijos,
    Karla

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    Respostas
    1. Seria delicioso. Mas, como nem tudo pode ser perfeito sempre, irei uma semana antes de você, mais um desencontro, querida. Não faltarão oportunidades, claro. BjO grande!!

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