Tem dias que são feitos para buscas interiores, dias de se desconstruir para após seguir.... Hoje foi um desses dias, depois do furacão, um dia para o "eu", apenas isso. Hoje saí para caminhar, para "ver o Mundo", em busca de Luz. Encontrei Inspiração!
Numa manhã cinzenta de outono em Porto Alegre decidi caminhar por caminhos que há 16 anos não pisava sozinha: eu, o vento, o sol e o rio Guaiba - como tantas vezes fiz na Vida. Mesmo morando a tão poucas quadras, vinha evitando esse encontro. Mas fui...
Fui em busca de Luz, encontrei o Sol que despontava por entre nuvens sobre a Usina do Gasômetro, majestosa e imponente às margens do Rio Guaíba. Mas encontrei bem mais do que Luz, me encontrei, encontrei meu eixo e tropecei, literalmente, em inspiração.
Numa manhã cinzenta de outono em Porto Alegre decidi caminhar por caminhos que há 16 anos não pisava sozinha: eu, o vento, o sol e o rio Guaiba - como tantas vezes fiz na Vida. Mesmo morando a tão poucas quadras, vinha evitando esse encontro. Mas fui...
Fui em busca de Luz, encontrei o Sol que despontava por entre nuvens sobre a Usina do Gasômetro, majestosa e imponente às margens do Rio Guaíba. Mas encontrei bem mais do que Luz, me encontrei, encontrei meu eixo e tropecei, literalmente, em inspiração.
Ao passar junto a porta da Usina dei uma espiadela básica, daquelas de "revesgueio", sem interesse. Vejo um cartaz, entro e me emociono. Lá estava a inspiração que tanto precisava, em forma de caixas simples e pretas. Manhã para ter o coração tocado.
Em seu último dia estava lá a exposição do Movimento de Justiça e de Direitos Humanos: "Onde a Esperança se Refugiou". Considerando o que tenho para produzir profissionalmente, só dizendo que, literalmente, "tropecei em inspiração"!!
Exposição dividida em 5 eixos, cada qual comportado por uma grande caixa preta, conta nuances da história da Ditadura no Brasil, até nossos dias - de Getúlio à Comissão da Verdade. Aproveitando o ensejo, faz paralelos com as demais Ditaduras da América do Sul.
Estava alí, em caixas pretas, com sons e imagens, a Luz que precisava encontrar. Fiz o percurso duas vezes, para aproveitar cada sentido daquela proposta, cada palavra daqueles textos. Por si só já era uma viagem, mas ao entrar pela primeira vez no 3º eixo percebi que algo ali seria realmente especial no meu dia.
A estrutura que recebia o 3º eixo era integralmente revestida internamente com as fotografias, todas em preto-e-branco como as da época, das 366 vitimas brasileiras da Operação Condor, enquanto um narrador lia, copiosamente, o nome de todos. A imagem em si já seria forte, impactante. Entretanto, uma daquelas coincidências da Vida, a transformou numa experiência especial para mim.
Filha da Ditadura Militar, como costumo dizer, cresci em meio ao silêncio, a falta de respostas, a livros de história pouco informativos e bem afastada de livros de filosofia, pelo menos até metade da década de 80. Mas nesse tempo minha mãe possuía uma querida amiga, colega de trabalho, politizada, culta, que lutava bravamente por noticias de seu filho, desaparecido por obra e graça da Operação Condor na Argentina. Entre elas conversavam, mas poucas palavras sobravam para os ouvidos da criança que acompanhava a mãe em eventuais visitas de final-de-semana. Mas uma imagem restou marcada para a vida, a de uma pequena fotografia 3x4, colada sobre um cartaz de Che Guevara afixado na porta de um dos quartos da residência da familia. Em todas as vezes que lá estive, lá estava aquela pequena fotografia - me perguntava o que teria aquele homem feito para que tudo que se visse dele fosse aquela imagem cinza.
Quando ouvia comentários eles ficavam em dois níveis, girando entre comunismo e genialidade. Logo, um gênio comunista havia desaparecido. E lá sabia eu o que era comunismo!! Mas outras palavras entendia bem: gênio, escritor, inteligente!! Pois esse jamais retornou....
Quando ouvia comentários eles ficavam em dois níveis, girando entre comunismo e genialidade. Logo, um gênio comunista havia desaparecido. E lá sabia eu o que era comunismo!! Mas outras palavras entendia bem: gênio, escritor, inteligente!! Pois esse jamais retornou....
E não é que hoje, ao fazer a transposição de uma estrutura para outra, paro por alguns instantes, leio o texto escrito do lado de fora, permito que um casal passe e entre na minha frente (já que estava a fim de curtir aquilo em silêncio) e quando piso no marco da entrada ouço o narrador nominá-lo: Jorge Alberto Basso. Lá estava uma lembrança da infância ecoando em meus ouvidos. Lá estava minha inspiração para as tarefas profissionais que me esperam...
Coincidências à parte, a Exposição é de uma simplicidade poética, feroz, cortante. Se não fosse o último dia, retornaria. Mas seu papel, para mim, está cumprido: inspiração!
E porque isso num blog de viagens (pergunto eu). Porque às vezes a melhor viagem possível não está no outro lado do Mundo, está em captar aquilo que podemos, onde podemos, com olhos e coração de viajante. Nem lembro qual fora a última vez que havia visitado uma exposição na minha cidade, mas em outros cantos sempre arrumamos um tempinho para uma contemplação. Então a dica de hoje é: viaje na sua cidade, na sua história, aproveite o possível!!
Gostei muito. Acho que deveríamos todos viajar nas nossas próprias cidades. Sabe que algumas vezes fiz isto. Sai para turistar em São Paulo. Abs
ResponderExcluirFlora, andava ne devendo esse outro olhar. Acho gostoso olhar a própria cidade, observar seus encantos, mas pouco faço. Acredita que moro há quase dois anos na frente do Museu que mais amei conhecer na infância e ainda não disponibilizei tempo para uma entradinha??!! Abraços,
ExcluirPaula
Paula, adorei esse texto.
ResponderExcluirÉ tão bom quando a gente encontra um lugar assim ao acaso e que mexe tanto com a gente.
Eu adoro exposições, será que essa vem pro RJ?
Foi muito especial, mesmo. Não vi qualquer referência que se trate de exposição itinerante, mas caberia para qualquer cidade. É de uma simplicidade cortante. Abraços,
ExcluirPaula