BARRI GÒTIC: lugar para andar sem rumo em Barcelona!

Esperava por um dia inspirador para falar de um lugar que somente pode ser visto com o coração, senão a impressão que pode dar é que não passam de paredes velhas e úmidas, reunidas num canto qualquer, de uma cidade qualquer. Mas não, ele é mais que paredes úmidas, cinzas e aglomeradas por aí, é o Bairro Gótico (Barri Gòtic) em Barcelona.

Nutri simpatia por ele desde que li a respeito e, quando agendei nossa permanência em Barcelona, fiquei feliz de ficar hospedada na Rambla Dels Caputxins, pela proximidade.

Minha primeira visita foi noturna, num início de noite agradável de outono. Mas foi apenas a primeira, pois o visitei no mínimo duas vezes ao dia por todos os dias de nossa permanência. Inclusive, foi minha última caminhada pela bela cidade.

Bairro mais antigo e preservado de Barcelona, formado por pequenas praças medievais, rodeadas por construções góticas (na verdade mais românicas que góticas, mas isso já é uma discussão para arquitetos) distribuídas por ruas e vielas estreitas. O Bairro não possui mais suas muralhas, derrubadas ainda no século XIX. Possui, em síntese, um conjunto arquitetônico bem preservado, numa atmosfera que remete a era Medieval. As principais “atrações turísticas” são a Catedral de Barcelona, o Palácio do Governo e a Praça Del Rei – mas não são delas que me proponho a falar aqui, mas elas estão em todos os guias e são facilmente localizáveis, basta perceber reuniões de turistas e câmeras fotográficas.   

Mas o que tem por lá além das "atrações turísticas" e que mereçam um post?? Resposta fácil: “pessoas”, “vida” e “história”.

Embora rodeado por paredes gélidas, o bairro fervilha, tem vida, tem coração. Seus moradores se misturam aos turistas, seu comércio eclético e colorido atraí todos os olhares para vitrinas descoladas, pequenos carros competem com pessoas e bicicletas e todos se entendem, todos se mesclam. Daí meu encantamento.

 

 

E como se caminha no Gótico?? Sem rumo....

Caminhando sem rumo, sem destino e sem relógio, curti aquele lugar nos horários mais diversos. Se no primeiro dia tive que cuidar para não me perder por entre suas ruelas, ao final já tinha construído uma lógica em torno daquelas ruas, daquele espaço. Tanta gente colorida residindo em espaços cinzas, tanta cor onde não há cor. O burburinho do dia e do início das noites, substituído pouco a pouco pelo silêncio e pela escuridão do início das madrugadas.

Acreditem, me perdi por suas ruas noite adentro (o risco era perder a câmera), mas foi irresistível – e tranquilo! Fotografar aquele lugar à noite é como estar num filme!! É impactante, se considerarmos as obras de Gaudí espalhadas pelos quatro cantos de Barcelona, são os contrapontos de uma cidade.

E o que dizer das Bandeiras espalhadas por portas e janelas, por uma Catalunha Independente?  Bom, aí foi um misto de sentimentos. Mesmo sabendo que os efeitos de uma Independência talvez não sejam favoráveis para quaisquer das partes (há tantas discussões envolvidas, industrialização setorizada, economia, serviços públicos, etc, etc, etc), a luta é válida e linda!! É tão difícil fazer parte de uma geração educada para não pensar, para não arriscar – o que faz minha geração? Nada, porque cultura e política se vive, se adquiri desde sempre. Que filhos minha geração está criando? Melhor nem levar essa discussão tão longe, não é mesmo? Por isso me emociona ver a Luta. Imagina eu, filha de uma Terra que já foi Capital de uma República (sim, o Rio Grande já foi em parte independente e republicano e minha cidade natal sua Capital) perceber a emoção daquelas bandeiras tremulantes?

E tantas coisas há naquele espaço. Pequenas lojas de serviços, galerias, restaurantes. Uma infinidade de artistas dispondo sua arte aos nossos olhos.

Para uma apaixonada por azulejaria, o que dizer dos quadros espalhados pelas ruas, cor sobre o cinza do estilo gótico? Só andando sem rumo, estando aberta para as surpresas a cada esquina, curtindo a cor daqueles pequenos e graciosos quadros.  

Andar pelo Gótico durante o dia não tem o mesmo charme, mas o comércio estará integralmente em funcionamento. Também dá para curtir o sol sobre os azulejos, o brilho de um lindo bairro. Andei, literalmente, lendo as paredes!