CAÇAPAVA DO SUL: Portal do Pampa Gaúcho

Segunda Capital Farroupilha (1839/1840), localizada a 270 Km de Porto Alegre, na região da campanha. Considerada o Portal do Pampa Gaúcho, conta com uma população de aproximadamente 32 mil habitantes. Possui sua economia baseada na Pecuária de Corte (bovinos para produção de carne).

Tradicionalmente conta também com numerosos rebanhos de ovinos, para aproveitamento da carne (de consumo diário) e para a venda anual de lã.

BR 290 - caminhos do Pampa Gaúcho: 02/09/2012

Embora ostente o título histórico de Capital Farroupilha, nas últimas décadas poderia ser chamada de Capital Nacional do Calcário (maior produtora de calcário agrícola do País), utilizado em lavouras de todo o país e do Mercosul para a correção da acidez do solo. Conhecidas como Caieiras, as áreas de extração são avistadas as margens da BR 392. Antigas áreas escavadas acabam por formar piscinas de águas límpidas, mas a área não tem seu potencial turístico explorado.

Terra de histórias e de lutas mantém preservada parte de sua história, através de uma arquitetura e culinária marcadas pela forte influência portuguesa. Terra de invernos marcados pelo frio intenso e pelos gélidos ventos, chamados de Minuano.

Pecuária Santa Claudiana / Guarda Velha - poente de outono

Pecuária Santa Claudiana - "três Marias" no pampa gaúcho

 Pecuária Santa Claudiana / Guarda Velha: arco-iris de primavera

Possui uma interessante produção de artesanato em lã de ovelha (palas, ponchos, luvas e cobertores), além de pelegos, bem como de tapetes em couro de vaca, que são comercializados junto às rodovias que circundam a cidade. Além dessas peças características, há venda de doces caseiros típicos da região (compotas de frutas e doces e rapaduras de leite), mel silvestre, licores e vinho de laranja (típico da cidade e dificilmente encontrado em outras cidades do Estado). Atualmente está se tornando uma região produtora de uvas e de oliveiras (azeitonas).

Os principais pontos turísticos urbanos se encontram no chamado Largo Farroupilha e nas proximidades. O destaque fica para o Forte Dom Pedro II (único forte militar do Rio Grande do Sul) com seus muros em pedra erguidos durante a Revolução Farroupilha, para a proteção da então Capital Farroupilha contra as forças Imperiais. Possui ainda outros pontos de interesse, como a Casa dos Ministérios (atualmente abandonada pelo Iphan), a Igreja Matriz e a Casa onde nasceu Borges de Medeiros.

(Forte: fotos de divulgação)

(Igreja Matriz Nossa Senhora da Assunção)

Por sua história, os festejos Farroupilhas movimentam seus moradores ao longo de todo o mês de setembro. Reuniões, jantares, desfiles e bailes diários em seus inúmeros CTG (Centros de Tradição Gaúcha) revivem a história de lutas. Nessas oportunidades revivem inclusive os “bailes de ramada”, onde galpões de pau-a-pique e grandes ramadas (coberturas de capim sobre estacas) protegem os participantes do sereno e da chuva.

Pecuária Santa Claudiana / Guarda Velha: poente de inverno

A cidade conta ainda com o Festival Internacional do Folclore, que reúne grupos de diversas partes do mundo, que se hospedam em residências e se apresentam ao longo da semana, encantando a todos num imenso intercâmbio cultural.

Grupo Chimangos - foto de divulgação

Outras duas importantes festividades são a Festa do Divino Espírito Santo e o aniversário do Clube União Caçapavano. Ao longo da Novena do Divino, os festeiros (organizadores) levam ao interior do Município a fé e a festa. Um pouco em desuso são as Cavalhadas, representação artística que envolve dezenas de pessoas na representação das lutas entre Mouros e Cristãos na Idade Média. Já o aniversário do Clube União é comemorado em grande estilo, exaltando as tradições e procurando reviver sua inauguração, com os presentes em trajes de época e iluminação especial (velas e candeeiros). 

Clube União: 09/03/2012

Na culinária se destacam pratos com forte influência portuguesa e, ainda, outros dos tempos das tropeadas (deslocamento de rebanhos de uma região a outra).  Cozinha marcada pelo sabor e pela história. Além do churrasco de carne de ovelha, feito em fogo de chão e com espetos de pau (galhos de árvores preparados especialmente para a ocasião), tem ainda aquele que considero seu prato mais saboroso e típico, a carne frita – carne de ovelha preparada diretamente na panela, frita em sua própria gordura. Acompanhada de mandioca, arroz e feijão fazem uma mesa típica e deliciosa, especialmente com as refeições preparadas no fogão à lenha. Como pratos típicos conta ainda com o "arroz de carreteiro" (arroz com charque) e "kibebe".

Os doces são um importante aspecto culinário a ser destacado – sobremesas tipicamente portuguesas. Por lá os doces são muito doces. Curioso é o antigo costume, acredito que já um tanto em desuso, de sobremesas servidas com leite fresco, logo após as refeições. Podem ser porções de marmelada/pessegada/figada (doces produzidos em tachos de cobre), angu (mingau de farinha de milho, com leite e açúcar), talhadas de mugango (espécie de abóbora), talhadas de moranga caramelada (abóbora cabotiá), doce-de-leite (espécie de ambrosia que utiliza leite fresco) ou outros, que são servidos em pratos de sopa e que se fazem acompanhar de leite de vaca frio, para saborear de colher. É terra de muita doçura, com grande produção de doces de tacho (marmeladas e outros), compotas de frutas da região, doce-de-leite (leite empelotado com calda), mumu (doce-de-leite cremoso), arroz de arigona (passas de pêssego cozidas com arroz), arroz de leite, entre outras iguarias. Muito pão caseiro (temperados com erva-doce) e bolachas deliciosas. Rapaduras de leite, abóbora e de amendoim.

Área rural de pecuária extensiva, campos de coxilhas e residências centenárias, propriedades que se destacam na criação de bovinos de corte de raças europeias, ovelhas laneiras e cavalo crioulo. Muitos são os animais silvestres que podem ser avistados pelos campos, como Emas, Jacus, Veados Campeiros, Graxains e Lebres.

 

Pecuária Santa Claudiana / Guarda Velha - 30/09/2012

Pecuária Santa Claudiana / Guarda Velha - 11/01/2013

Afastados em torno de 40 Km da área urbana, temos dois destaques: Minas do Camaquã e Guaritas.

As Minas do Camaquã (Companhia Brasileira do Cobre – fundada em 22/10/1942) se consistiam na maior cidade privada (particular) do país. De propriedade do Magnata Baby Pignatari (Francisco Matarazzo Pignatari), durante décadas foi explorada a extração de cobre. Formada por uma população em torno de 8 mil pessoas, entre trabalhadores e seus familiares, teve falência declarada a aproximadamente 20 anos. Desde então, teve sua estrutura urbana sucateada, com a venda e demolição de grande parte de suas residências, bem como a retirada parcial dos serviços públicos. Ainda restam moradores, mas muitas famílias possuem apenas residências de veraneio no local. As áreas de produção e seus equipamentos se encontram abandonados e sucateados. Como destaque temos o Cine Rodeio, construção inspirada no Velho Oeste Americano, além de galerias escavadas e áreas de exploração a céu aberto e que hoje se constituem em verdadeiros tesouros para exploração turística. Resiste também no local a antiga residência do Magnata, construída em 1968. A cada dois anos reúnem-se no local centenas de ex-moradores e ex-mineiros, para um final de semana de muita festa e confraternização, que buscam resgatar sua história e que sonham com a preservação da área e com sua exploração turística. Possui hotel para visitantes (instalações simples), além de hotéis fazenda nas imediações (não os conheço pessoalmente).

Minas do Camaquã: fotos de divulgação

Guaritas é a localidade onde se encontram inúmeras formações rochosas típicas, encantadoras e cercadas de lendas e histórias, além de contar com fauna e flora diferenciada. Considerada uma das Sete Maravilhas do Rio Grande do Sul. Em meio a essas formações rochosas encontram-se muitas grutas (chamadas pelos locais de Tocas). Área muito utilizada para a prática de escaladas e de voo livre. O local foi cenário para as filmagens do filme Valsa para Bruno Stein, sendo que a casa construída para as locações hoje se constitui na sede de sua associação. Na localidade desenvolve-se ainda o Museu de Pedra Professor Eduardo Marin, que conta com o acervo pessoal desse importante historiador caçapavano. Na mesma linha, mas já no vale dos Lanceiros (nome que homenageia os Lanceiros Negros, escravos que lutaram junto aos rebeldes Farroupilhas), se encontra a Pedra do Segredo – formação rochosa com cavernas e muito utilizada para a prática de escaladas e montanhismo. Graças a essas formações rochosas diferenciadas, a região foi eleita pelos adeptos como a Capital Gaúcha do Montanhismo.

Hoje está se transformando num polo educacional, que conta com a recente instalação de uma Universidade Federal – Universidade do Pampa (Unipampa), além da privada Universidade da Campanha (Urcamp). Nos últimos três anos tem aumentado consideravelmente a população estrangeira (de todos os pontos do Brasil) que buscam na Unipampa uma vaga no ensino público superior.

Local ideal para aquele turista que está de passagem, rodando pelas estradas do Sul do Brasil e que aproveita algumas horas para conhecer os encantos daquela terra. Não há estrutura turística organizada, sendo difícil inclusive encontrar lembranças da terra. É apenas uma cidade histórica encravada no Pampa Gaúcho.

Ainda ecoa pelos campos o grito de  CAÇAPAVA NÃO SE ENTREGA!!! (seu lema histórico).

Pecuária Santa Claudiana / Guarda Velha: poente de verão